quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Projeção da queda próxima de produção na Arábia Saudita.



(Clicar na imagem para ampliar)


Para esclarecer o modo como está ocorrendo a queda de produção nos campos que vem sustentando a oferta mundial de petróleo, reproduzimos acima uma projeção feita há alguns anos para a produção de C + C + LNG (Óleo Crú + Condensado + Liquidos do Gás Natural) na Arábia Saudita.

É claro que se trata de uma apenas de uma projeção baseada em determinado nível de reservas presumidas (sempre discutíveis) e no modo como a queda ocorreu em outras províncias, mas serve para dar uma idéia do que estamos falando.

Note-se que o campo de Ghawar (mostrado em vermelho), que é o maior e mais importante dos campos Sauditas, já está exigindo a injecção diária da mesma quantidade de água salgada que o petróleo que é dele extraido diáriamente.

Comentário sobre um comentário

Reproduzo um comentário e sua resposta, que dada a relevância achei oportuno publicar diretamente no texto do blog:

From: Jacques Beribos
Date: 15/2/2011 19:21:46
To: Mauro Porto;
Subject: Comentários confiaveis de quem foi chefe da área de Pesquisas do Cenpes sobre "O Crepúsculo do Petróleo Blog"

Prezado Mauro:
....não conhecendo os critérios utilizados no controle mundial d´energia, e sem nunca ter participado de Planejamento estratégico da produção de Petróleo da Petrobrás, solicitei a opinião de um ex-colega, Professor xxxxxxxxx, profissional serio e confiavel que chefiou a área de Pesquisa do Cenpes. A consulta teve como objetivo somar conhecimentos. Assim enviei por e-mail o resumo http://www.ocrepusculodopetroleo.blogspot.com/ obtendo as seguintes ponderações (não sei se poderão ajudar?):

"Prezado Jacques:
Desde que entrei na PETROBRÁS, em janeiro de 1959, que ouço falar que o petróleo vai acabar. Certamente, isso vai acontecer um dia, pois o petróleo é finito. Contudo, o avanço tecnológico da indústria do petróleo tem jogado esse prazo sempre para a frente. Até onde, não sei. ... etc, etc ...
...em outras palavras, acredito que o mundo já está desenvolvendo e desenvolverá muitas outras fontes de energia para substituir o petróleo nos seus diversos usos. O fim do petróleo não se dará de repente. A medida que ele for escasseando, os preços subirão e favorecerão o uso paulatino de outras fontes de energia".


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O que posso apenas dizer, caro Jaques, é que essa é a posição dos que não perceberam que a crise econômica (que já começou) não vai ter mais fim, não porque o petróleo vai acabar (teremos petróleo por muitos e muitos anos ainda !) mas porque de agora em diante o petróleo será extraído sempre mais caro e/ou em menor quantidade, já que a introdução de novas jazidas, inclusive as brasileiras, mal estão mais conseguindo compensar a queda de produção dos velhos campos.

Quando ocorrer, o percentual de queda de produção anual vai ser pequeno, algo da ordem de 2%, 3%, 4%, durante os primeiros anos de queda.

Mas veja bem, 2% de 80 milhões de barris por dia são 1,6 milhões de barris por dia, ou seja, 365 x 1,6 = 584 milhões de barris de energia a menos para o mundo no fim de um ano. Sendo cada milhão de barris o mesmo que 1736 Gwh, então 584 milhões de barris correspondem a 584 x 1736 = 1013824, isto é, 1013824 Gigawatts.hora de energia faltante no fim do primeiro ano.

"Bem", disse o seu amigo, "basta substituir esses milhões de barris por fontes alternativas".

Usinas atômicas, por exemplo, do tamanho da usina de Angra dos Reis. Cada usina do tamanho de Angra gera por ano cerca de 11000 Gwh. Então "bastaria" construir 1013824 / 11000 = 92 usinas, para substituir a perda do primeiro ano.

Mas no segundo ano haveria nova queda de 2% (ou mais), portanto, seria necessário construir mais 92 usinas iguais a de Angra, para compensar. E no terceiro ano, a mesma coisa. Mais 92 usinas no quarto ano. E assim por diante. Já deve estar dando para entender que esse caminho é impossível, não chega a lugar nenhum

Esse é que é o verdadeiro problema: uma questão de escala. A colossal quantidade de energia perdida em cada milhão de barris produzido a menos, que não tem como ser substituída a tempo, PORQUE AS PROVIDÊNCIAS DEVERIAM TER SIDO TOMADAS 30 ANOS ATRÁS.


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Começa a emergir a Verdade

Pois é...

Bastaria perceber que, à despeito da alta de preços, a produção mundial de óleo cru está virtualmente estabilizada há quase seis anos, para concluir o que a “Folha de São Paulo” publicou dia 10.02.2011:

Documentos do Wikileaks revelaram que desde 2007 o Cônsul Geral dos Estados Unidos em Riad foi informado de que a Arábia Saudita não tem condições de aumentar a produção aos níveis necessários para evitar nova explosão nos preços do petróleo, e que possivelmente em 2012 ficará demonstrado que a produção mundial já terá passado do pico, começando a cair.

De qualquer modo, pode-se ter como certo que nem assim os “economistas oficiais” (governamentais e privados) abandonarão a mística fé de que a economia mundial já está voltando à normalidade, e vai seguir crescendo, indefinidamente, porque Nossa Senhora do Mercado vai fazer um milagre bem à tempo de salvar a situação.

Tenho muito pouca paciência com todos eles.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Depois de três anos de crise, de volta à situação de 2008.

Ao final de 2010 pelo quinto ano seguido o pico de produção de petróleo cru, convencional, alcançado em 2005, no entorno dos 73 milhões de barris diários, deixou novamente de ser atingido.

Isso seria  impossível de acontecer em condições normais, já que os produtores privados ou estatais de petróleo tiveram sempre total liberdade para vender seu produto a preços que tem se mantido a enormes alturas, desde 2004, e o mais inescapável resultado da lei da Oferta e Procura é que num mercado de preços crescentes os vendedores só não aumentarão a produção para ampliar sua fatia do mercado, tirando proveito da situação favorável, se não tiverem condições de fazê-lo.

O fato concreto é que a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que atualmente responde por 42% do suprimento global, há cinco anos tem mantido a produção estável, no entorno dos 30-31 milhões de barris por dia, enquanto que o resto do mundo tem oscilado a duras penas no entorno dos 58% restantes, lutando contra o declínio dos velhos poços, compensado com grande dificuldade pelas novas perfurações.

O método com que tem sido escondido esse muitíssimo grave problema de estabilização da produção, num platô ondulado que indica a iminência da queda, tem sido introduzir na contabilidade da produção a totalidade “dos líquidos combustíveis”, computando os líquidos do gás natural (LGN), os ganhos de refinaria e os “outros líquidos” (inclusive etanol, bio-diesel e combustíveis sintéticos), o que resulta numa produção que se mostra crescente ao longo dos anos, e que hoje soma cerca de 10 milhões de barris aos 73 milhões de barris de óleo cru, fechando a conta dos pouco mais de 83 milhões de barris que constituem a presente demanda mundial.

Mas isso é uma técnica de desinformação conhecida, onde o fato fundamental é disfarçado numa barragem maior de dados e informações.

Com esse artifício fica escondida a verdade de que LGN, ganhos de refinaria, bio-combustíveis e combustíveis sintéticos não são o mesmo que óleo cru, contendo menos que 70% da energia do mesmo volume de óleo, além do que, não se constituem por si mesmos numa fonte original de energia porque eles mesmo são o resultado de um processo complexo de conversão de energia provinda de outras fontes que não o óleo crú...

Assim, o mundo não está produzindo os 83 ou 84 milhões de barris de óleo necessários para equilibrar seu balanço energético, mas vem oscilando no entorno dos 73 milhões de barris de óleo cru que somados aos menos de 10 milhões de barris equivalentes oriundos dos “outros líquidos”, já estão se tornando insuficientes para atender à demanda, a despeito da crise econômica.

Isso nos traz de volta à situação detonadora da crise de 2008, quando a inexistência de folga entre produção e demanda levou o preço acima dos 100 dólares o barril, refletido nos aumentos de preços que causaram o estouro das bolhas econômico-financeiras do primeiro mundo e distúrbios populares nos subdesenvolvidos.

Pois 2011 mal começou, e já podem ser vistos importantes choques de preços e crises de alimentos em varias partes do globo. Os distúrbios populares de fundo econômico que já ocorreram na Argélia, Tunísia, Moçambique, Bangladesh, Indonésia e agora no Egito, derivam da íntima conexão entre hidrocarbonetos escassos e a produção de alimentos, que pode ser claramente verificada no gráfico abaixo. (Clique na imagem para ampliar)


O índice mundial de preços de alimentos, da FAO (Food and Agriculture Organization, da ONU), calculado em dezembro de 2010 já ultrapassou ligeiramente o pico alcançado em junho de 2008, refletindo os aumentos mundiais de todas as comodities alimentícias.

Quando se fala em escassez de petróleo dificilmente alguém se refere ao mais devastador dos problemas que é a repercussão sobre a produção de alimentos.

A simples inspeção do quadro acima mostra que essa é a QUESTÃO FUNDAMENTAL (Cap.7, pag 67, O Crepúsculo do Petróleo: "É a Comida, Estúpido !"), pairando muito acima da convergência de crises causadas pela muito próxima e inelutável queda na produção mundial de petróleo.