Em 2014 terão já se escoado 10 anos desde que se compilaram
os dados que deram origem ao livro e a este blog.
Revendo o capítulo sobre a repercussão da crise energética
no sistema financeiro internacional, pode-se ler:
“... um
castelo de cartas erigido ao longo de 60 anos, que ruirá em meio a uma explosão
inflacionária no momento em que haja a menor incerteza de que os valores que
representam poderão ser resgatados”....
“...não é necessário que a extração anual do
petróleo decline, basta que cresça pouco ou se estabilize por alguns anos,
digamos, no entorno dos 90 milhões de barris por dia, para sinalizar que a
economia baseada no petróleo entrou na fase final, com devastadoras implicações
para a suposição de crescimento continuo -- que sustenta um sistema financeiro
baseado na confiança de que a expansão de amanhã proporcionará os resultados
necessários ao pagamento do endividamento de hoje.”
Ora, nos últimos 10 anos a produção de petróleo cru teve um
crescimento pífio de apenas 0,65% a.a.,
e a produção global incluindo os “demais líquidos” – gás liquefeito, combustíveis sintéticos, etanol,
biodiesel, etc. – atingiu finalmente os 90 milhões de barris em maio de 2013, graças ao aumento da produção americana pela
tecnologia de “fracking”.
Em 2004 as tabelas da EIA (Energy Information
Administration) dos Estados Unidos projetavam um aumento continuado de produção
da ordem de 3% ao ano, isto é, 2,5
milhões de barris/dia a mais, cada ano, para manter o crescimento normal da
economia.
Nesse ritmo, em junho de 2013 a produção global diária de petróleo
cru deveria ter chegado sozinha aos 95 milhões de barris, quase 20 milhões a mais por dia do que a
atual produção de 76 milhões.
Do modo como se deram as coisas, o déficit total de “líquidos energéticos” – com relação ao
“necessário“ esperado – fica na ordem dos 16 milhões de barris por dia, que hoje
impede a injeção na economia mundial de uma quantidade de capital real (ouro
negro energético) equivalente a 584 bilhões de dólares por ano, computados a
US$ 100 por barril, totalizando algo da ordem dos 2,8 trilhões de dólares desde
2004.
Não
por outra razão, com esse quadro instalado a partir de 2005 e os preços do petróleo
mantidos nas alturas, a crise financeira internacional estourou três anos
depois no elo mais fraco da corrente -- os papéis imobiliários e produtos
"derivativos".
Na
tentativa de preservar o sistema e manter as economias em expansão os Bancos
Centrais mundiais desde então vem emitindo moeda através de mecanismos diversos,
principalmente o Federal Reserve – o Banco Central americano responsável pela
moeda de reserva internacional – que se encontra na quarta etapa do mecanismo
de socorro chamado “Quantitative Easing”.
O
Fed (Federal Reserve), que imediatamente antes da crise apresentava em seus balanços menos que US$ 800
bilhões em Letras do Tesouro, começou comprando dos bancos US$ 600 bilhões de ações e outros papeis -- em novembro de 2008. Em março de 2009 já tinha adquirido US$
1,75 trilhão em débitos, letras do tesouro e outros papéis, passando dos US$ 2
trilhões em 2010.
Uma segunda rodada de “Quantitative Easing”
(QE2) iniciou-se em março de 2011 (mais US$ 600 bilhões) e em setembro de 2012
foi anunciada uma terceira e ilimitada rodada (QE3), um programa de compras de
US$ 40 bilhões por mês, aumentada três meses depois para US$ 85 bilhões. Em junho do corrente ano foi anunciado que em
setembro as compras mensais cairiam para US$ 65 bilhões e que o programa terminaria gradualmente em
2014.
Com
a queda do mercado de ações que
seguiu-se à declaração, em 18 de setembro o Fed
decidiu manter o programa de compras, sem prazo de término definido.
Ocorre
que todas essas aquisições são feitas às custas do Tesouro, e implicam num
agravamento do endividamento do Governo Federal que já é, interna e
externamente, insustentável, com uma carga de obrigações que vai do
financiamento dos programas de governo à cobertura da balança comercial
deficitária, e à sustentação de uma gigantesca máquina de guerra espalhada por
todos os continentes.
Como
o governo americano gasta muito mais do que arrecada, para funcionar ele
necessita aumentar continuamente seu endividamento interno e externo através de
emissão de Letras do Tesouro e outros mecanismos financeiros, o que implica na
necessidade periódica de obter do Congresso a elevação do teto de endividamento
autorizado.
A falta de aprovação de um orçamento federal pelo Congresso e a aproximação da data limite para a elevação desse teto – passada a qual não haveriam recursos disponíveis nem para o pagamento das obrigações internacionais – levaram o governo fechar agencias estatais e chegar à beira de uma inimaginável situação, evitada no dia 17 de outubro horas antes do fim do prazo, por um acordo que empurrou o problema para o início do próximo ano.
Pode-se
ter a certeza de que essa crise fui um daqueles "Beijos da Morte", aceleradores da história.
Brezhniev / Honecker, 1979: O Beijo da Morte
O
impasse público teve o mérito de desatar línguas e fazer com que se comece a
reconhecer que o ”rei está nu“, como ocorreu dia 2 de outubro com a inesperada
declaração de um conceituado jornal inglês (Financial Times), de que o sistema
financeiro baseado no Dolar tinha se tornado inerentemente instável.
No próprio dia 17 de outubro a chinesa Dagong - Global
Credit Rating, uma das poucas importantes agências avaliadoras de crédito
sediadas fora da América, atribuiu aos Estados Unidos uma classificação negativa.
Pena
que as nossas autoridades financeiras não façam como as da China, que estão
emprestando dólares às suas empresas para gastá-los no Brasil, e no resto do
mundo, com a maior velocidade que possam fazer. Além de estarem comprando ouro num ritmo constante de crescimento.
China comprando Ouro
Dados apenas de Hong Kong
Clicar em cima para ampliar