domingo, 20 de outubro de 2013

Como estão as coisas, quase dez anos depois...



Em 2014 terão já se escoado 10 anos desde que se compilaram os dados que deram origem ao livro e a este blog.

Revendo o capítulo sobre a repercussão da crise energética no sistema financeiro internacional, pode-se ler:

“... um castelo de cartas erigido ao longo de 60 anos, que ruirá em meio a uma explosão inflacionária no momento em que haja a menor incerteza de que os valores que representam poderão ser resgatados”....

  “...não é necessário que a extração anual do petróleo decline, basta que cresça pouco ou se estabilize por alguns anos, digamos, no entorno dos 90 milhões de barris por dia, para sinalizar que a economia baseada no petróleo entrou na fase final, com devastadoras implicações para a suposição de crescimento continuo -- que sustenta um sistema financeiro baseado na confiança de que a expansão de amanhã proporcionará os resultados necessários ao pagamento do endividamento de hoje.”

Ora, nos últimos 10 anos a produção de petróleo cru teve um crescimento pífio de apenas 0,65% a.a.,  e a produção global incluindo  os  “demais líquidos” – gás liquefeito, combustíveis sintéticos, etanol, biodiesel, etc. – atingiu finalmente os 90 milhões de barris em maio de 2013,  graças ao aumento da produção americana pela tecnologia de “fracking”.

Em 2004 as tabelas da EIA (Energy Information Administration) dos Estados Unidos projetavam um aumento continuado de produção da ordem de 3% ao ano, isto é,  2,5 milhões de barris/dia a mais, cada ano, para manter o crescimento normal da economia. 

Nesse ritmo, em junho de 2013 a produção global diária de petróleo cru deveria ter chegado sozinha aos 95 milhões de barris,  quase 20 milhões a mais por dia do que a atual produção de 76 milhões.

Do modo como se deram as coisas, o déficit total de  “líquidos energéticos” – com relação ao “necessário“ esperado – fica na ordem dos 16 milhões de barris por dia, que hoje impede a injeção na economia mundial de uma quantidade de capital real (ouro negro energético) equivalente a 584 bilhões de dólares por ano, computados a US$ 100 por barril, totalizando algo da ordem dos 2,8 trilhões de dólares desde 2004.  

Não por outra razão, com esse quadro instalado a partir de 2005 e os preços do petróleo mantidos nas alturas, a  crise financeira internacional estourou três anos depois no elo mais fraco da corrente -- os papéis imobiliários e produtos "derivativos".
Na tentativa de preservar o sistema e manter as economias em expansão os Bancos Centrais mundiais desde então vem emitindo moeda através de mecanismos diversos, principalmente o Federal Reserve – o Banco Central americano responsável pela moeda de reserva internacional – que se encontra na quarta etapa do mecanismo de socorro chamado “Quantitative Easing”.
O Fed (Federal Reserve), que imediatamente antes da crise  apresentava em seus balanços menos que US$ 800 bilhões em Letras do Tesouro, começou comprando dos bancos US$ 600 bilhões de ações e outros papeis  --  em novembro de 2008.   Em março de 2009 já tinha adquirido US$ 1,75 trilhão em débitos, letras do tesouro e outros papéis, passando dos US$ 2 trilhões em 2010.
 Uma segunda rodada de “Quantitative Easing” (QE2) iniciou-se em março de 2011 (mais US$ 600 bilhões) e em setembro de 2012 foi anunciada uma terceira e ilimitada rodada (QE3), um programa de compras de US$ 40 bilhões por mês, aumentada três meses depois para US$ 85 bilhões.  Em junho do corrente ano foi anunciado que em setembro as compras mensais cairiam para US$ 65 bilhões  e que o programa terminaria gradualmente em 2014.
Com a queda  do mercado de ações que seguiu-se à declaração, em 18 de setembro o Fed  decidiu manter o programa de compras, sem prazo de término definido.
Ocorre que todas essas aquisições são feitas às custas do Tesouro, e implicam num agravamento do endividamento do Governo Federal que já é, interna e externamente, insustentável, com uma carga de obrigações que vai do financiamento dos programas de governo à cobertura da balança comercial deficitária, e à sustentação de uma gigantesca máquina de guerra espalhada por todos os continentes.
Como o governo americano gasta muito mais do que arrecada, para funcionar ele necessita aumentar continuamente seu endividamento interno e externo através de emissão de Letras do Tesouro e outros mecanismos financeiros, o que implica na necessidade periódica de obter do Congresso a elevação do teto de endividamento autorizado.


A falta de aprovação de um orçamento federal pelo Congresso e a aproximação da data limite para a elevação desse teto – passada a qual não haveriam recursos disponíveis nem para o pagamento das obrigações internacionais – levaram o governo fechar agencias estatais e chegar à beira de uma inimaginável situação, evitada no dia 17 de outubro horas antes do fim do prazo, por um acordo que empurrou o problema para o início do próximo ano.
Pode-se ter a certeza de que essa crise fui um daqueles "Beijos da Morte",  aceleradores da história.


Brezhniev / Honecker, 1979:  O Beijo da Morte


Durante meses o mundo acompanhou ao vivo o espetáculo patético de paralisia política que espunha uma realidade que era já muito clara, mas da qual se temia falar,  um processo inelutável de bancarrota que culminará  fatalmente com a mudança do padrão monetário para um Dólar-novo – trocado pelo velho a uma taxa arbitrada pelo governo americano – e com a reconstrução total do sistema financeiro internacional.  
O impasse público teve o mérito de desatar línguas e fazer com que se comece a reconhecer que o ”rei está nu“, como ocorreu dia 2 de outubro com a inesperada declaração de um conceituado jornal inglês (Financial Times), de que o sistema financeiro baseado no Dolar tinha se tornado inerentemente instável.
No  próprio dia 17 de outubro a chinesa Dagong - Global Credit Rating, uma das poucas importantes agências avaliadoras de crédito sediadas fora da América, atribuiu aos  Estados Unidos uma classificação negativa.
Pena que as nossas autoridades financeiras não façam como as da China, que estão emprestando dólares às suas empresas para gastá-los no Brasil, e no resto do mundo, com a maior velocidade que possam fazer.   Além de estarem comprando ouro num ritmo constante de crescimento.

      China comprando Ouro
 Dados apenas de  Hong Kong
Clicar em cima para ampliar