quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O Colapso do Dólar e a nova Criptomoeda* da WEB
     *(criptográfica e digital)

Ao final da incrível confrontação de algumas semanas atrás, o Congresso dos Estados Unidos vislumbrou o desastre que se agiganta sobre a moeda de reserva mundial, e decidiu fazer... 
....absolutamente nada !

A precária extensão do teto de endividamento para o início de 2014, sem que houvesse ocorrido nenhum corte nos trilhões destinados à  máquina de guerra perdulária e superdimensionada, nem qualquer sinal de arrefecimento da cultura de “bolsa família” que garante os votos da politicagem, resultou na certeza de que o Governo Americano irá à falência mais cedo do que se esperava, assim detonando a bomba de destruição em massa que desmontará o presente sistema financeiro internacional.

Torna-se cada vez mais claro de que não há como evitar isso. Nenhuma negociação no Congresso, nenhum milagre de última hora poderá ser capaz de corrigir em meses o descaminho de décadas.

Em paralelo com isso, o agravamento da crise vem tornando as pessoas pela primeira vez conscientes da precariedade absurda de um sistema financeiro global baseado nas emissões do Banco Central de um país soberano, refratário ao controle pela simples definição de soberania.

Mas, trocar por qual coisa, o que temos agora ? Por emissões de um Banco Central Mundial ? Pela volta ao padrão ouro ?

O dito de que “a necessidade é a mãe da invenção“ parece ter sido mais uma vez confirmado com a extraordinária criação de um suposto gênio japonês,  conhecido apenas pelo pseudônimo Satoshi Nakamoto, que em janeiro de 2009 originou as primeiras unidades de uma moeda inteiramente virtual, destinada a ser produzida de forma descentralizada, independentemente de qualquer governo ou banco central.

O seu complicado processo de geração que envolve um numero crescente de computadores na criação conjunta de cada bloco de moedas, foi concebido de um modo que necessariamente limita em 21 milhões a quantidade total de unidades da moeda possíveis de serem criadas – limite atingido de forma assintótica, com dificuldade crescente.

Denominadas “Bitcoins” ($BTC), podem ser compradas e em seguida depositadas em carteiras (endereços virtuais de 12 dígitos alfanuméricos) como reserva de valor ou para serem utilizadas em operações de compra e venda e transferência de recursos realizados através da WEB.

Inicialmente usada como meio de pagamento de jogos da Internet, as notáveis potencialidades teóricas de uma moeda criada em ambiente criptográfico pelo “trabalho” de supercomputadores operando algoritmos complexos fez com que um número cada vez maior de pessoas se interessasse em adquirir essas “moedas “.

A procura naturalmente multiplicou o número dos que utilizam o  software (open source) que interconecta todos os produtores no trabalho conjunto de criação da moeda --  conhecidos como “mineradores”, aludindo ao fato de que a moeda é criada pelo trabalho deles com dificuldade crescente, como numa mina de ouro que se aprofunda.

Nesse final de novembro, pouco menos que 5 anos depois da criação já existem em circulação mais de 12 milhões de Bitcoins, atualmente gerados a uma taxa aproximada de 125000 $BTC por mês, livremente negociados no mercado global a um valor que vai ultrapassando os US$ 1000 por $BTC, resultando numa capitalização de mercado próxima dos US$ 12 bilhões.

Essa aceleração do numero de investidores, que está se tornando explosiva depois que gurus econômicos de prestigio reconheceram o Bitcoin com alternativa válida para cautelosos investimentos, obriga a uma análise aprofundada do tema.

Haverá  futuro para uma moeda com essas características ?

Desde os tempos de Aristóteles, as características de uma boa moeda tem sido definidas em termos de divisibilidade, portabilidade, durabilidade, escassez, e valor intrínseco.

1 - O Bitcoin é imbatível em termos de divisibilidade já que pode ser fracionado em qualquer quantidade de casas decimais.

2 - É tão portátil quanto o permitir o alcance das redes de celular. 

Na verdade, ainda mais portátil do que permitem as redes de celulares, porque qualquer quantidade de $BTC pode ser baixada de uma carteira da WEB  trazendo dados em códigos de barras matriciais e hologramas a serem impressos numa base física de papel, ou em belas moedas que podem ser entesouradas, ou postas a circular até serem "descarregadas" pelo envio dos  Bitcoins de volta a qualquer outra carteira da rede para serem trocados diretamente por bens ou serviços ou papel-moeda corrente. 

 3 - A durabilidade dessa moeda é a da rede global em que está sendo criada. Portanto, não é mais nem menos durável do que a “moeda” eletrônica atualmente em vigor, que é armazenada e circula através das redes públicas e privadas, constituindo a virtual totalidade de todo o dinheiro “normal” existente.

4 - A escassez do Bitcoin, como das outras criptomoedas do mesmo tipo, é garantida por seu mecanismo intrínseco de formação.

5 - A questão do  “valor intrínseco” merece  uma luz melhor sobre o que significa de fato.

O Ouro e a prata, usados milhares de anos como moeda, tinham com certeza um “valor intrínseco”, do mesmo modo que o sal africano e as conchas utilizadas para o mesmo fim na Polinésia.

Mas as quantidades de ouro e de prata usadas para fazer joias, ou de conchas aproveitadas como colheres, ou sal dado para o gado, não são nem de longe capazes de justificar as grandes acumulações desses materiais feitas principalmente com a finalidade de juntar-se moedas e barras de ouro e de prata,  ou conchas, ou sacos de sal, utilizados como instrumentos de troca.

Conclui-se que o verdadeiro “valor intrínseco” do ouro e da prata, do sal e das conchas, causador da acumulação desses materiais, é sua adequação a funcionar como moeda, mais do que serem matéria prima para a confecção de jóias, salgar carne, servir de colher. 

Não por outra razão amontoaram-se em quantidades muito maiores que as necessárias para fazer joias, do mesmo modo que o sal e as conchas nas sociedades primitivas acumulavam-se em quantidades muito maiores que as necessárias ao uso que se podia fazer daquilo. 

Assim, o "soba"africano tinha em seus depósitos sacos de sal suficientes para comprar as armas e os aliados que necessitasse, muito mais do que seria possível dar para o gado, ou usar em comida. 

A lição que se tira disso é que o  “valor intrínseco“ de uma moeda é o valor que a sociedade lhe atribui como símbolo de trabalho acumulado e como instrumento de troca.

Desse modo, o Bitcoin tem, na verdade, o grande "valor intrínseco" de sua adequação a funcionar como moeda, tão bem como o ouro ou a prata, e com a certeza de escassez mais garantida do que a das presentes moedas criadas sem limite, por simples atos de vontade.

Resulta que não há porque não aceitar o Bitcoin como uma verdadeira moeda, muito melhor que a produzida “do ar” por qualquer governo, até porque não tem como ser inflacionada diretamente pelo Tesouro, ou por emissões de um Banco Central.

No lado positivo da balança avultam ainda a facilidade, a alta velocidade e o baixo custo das transações,  muitíssimo menor que os 3% ou 3,5% das remessas feitas pela rede bancária ou pelo PayPal. 

Recentemente alguém transferiu Bitcoins correspondentes a US$ 6,5 milhões de dólares numa operação que durou poucos minutos ao custo  poucos centavos de dólar.  Custaria mais de US$ 227 mil  se feita por via bancária.  É certo que os bancos não gostarão nada disso.

Do lado negativo, o que se pode anotar é a dependência completa da WEB global. Eventos gravíssimos como a explosão de bombas nucleares geradoras de pulsos eletromagnéticos que apaguem satélites e cortem a eletricidade, suspenderão a mineração de Bitcoins e criarão para os possuidores os mesmos problemas que eles terão com suas contas bancárias e Certificados de Depósitos. Num caso como no outro, pouco se pode fazer quanto a isso além de ter comida guardada e alguns quilos de ouro no cofre.

Outra questão a notar é que sendo os Bitcoins gerados através de programas de open source, qualquer pessoa pode fazer versões diferentes, com diferentes propriedades, e de fato isso já aconteceu.

Existem vários competidores funcionando no mercado, conhecidos como “alt-coin”.  Com uma população mundial a caminho dos 10 bilhões, e completa indefinição sobre o sistema financeiro que sucederá ao que existe hoje, há espaço suficiente para muita experimentação desse gênero, sem que isso implique em problema para os sistemas de criptomoedas em competição.

Ressalte-se, no entanto, que o Bitcoin e as criptomoedas já existentes (Litecoin, Feathercoin, Terracoin, Namecoin, Novacoin, entre as principais) só poderão funcionar normalmente como instrumentos de compra e venda quando vencerem o estagio inicial de turbulência e tiverem seu valor variando dentro de uma determinada faixa de estabilidade.

O que é  muito interessante é o fato de que esse novo tipo de moeda aparece como uma alternativa bastante viável em face de um colapso do sistema financeiro internacional.



terça-feira, 12 de novembro de 2013

O INCRÍVEL MECANISMO DA CRIAÇÃO DE DINHEIRO E DO ESTABELECIMENTO DO CONTROLE OLIGÁRQUICO MUNDIAL


A respeito do assunto, me vem à lembrança as palavras de um conhecido meu, que depois de ganhar muito dinheiro como incorporador, para depois virar financista e banqueiro, comentou:

“É inacreditável como é fácil criar dinheiro.
Basta anotar um crédito na conta de alguém que ele sai assinando cheques.  
E o melhor é que ele me paga de volta esse dinheiro, que na verdade não dei.
Se  tivesse sabido antes, eu  não teria perdido tempo tentando ganhar dinheiro de outra maneira”.

O que realmente impressiona é que, sendo assunto tão importante,  tão pouca gente conheça o espantoso processo de criação de dinheiro nos sistemas subordinados a Bancos Centrais, a começar pelo Dólar, a moeda aceita como valor de reserva MUNDIAL.

De modo simplificado, funciona assim:    

1) O Governo decide que precisa de ter em caixa naquele momento uma certa quantidade de recursos financeiros, digamos  $$ 10 bilhões (Dólares, Reais, seja qual for a moeda).   
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      2) Com esse objetivo, o Tesouro Nacional imprime uma quantidade de papéis lindamente impressos (Letras do Tesouro), no valor nominal de 10 bilhões, e os entrega ao Banco Central, que em troca deposita nas contas do Governo, no Sistema Nacional de Bancos Privados, $$ 10 bilhões. 
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      3) O Banco Central pode fazer esse depósito em papel moeda -- impresso para esse fim -- ou meramente realizar o “depósito”  por via eletrônica. Nesse ato o Governo passa a dever ao Banco Central não só o total “depositado”, mas também o Juro anual prometido pelas Letras do Tesouro adquiridas pelo Banco Central.
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      4) A legislação que rege o chamado “sistema de reserva fracionada” autoriza a qualquer banco emprestar ao público uma elevada fração (normalmente 90%) dos depósitos recebidos, deixando em caixa uma reserva apenas suficiente para atender aos resgates correntes.
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      5) Sendo assim, com esse deposito de $$ 10 bilhões  os bancos estão autorizados a emprestar, em conjunto, $$ 9 bilhões, e efetivamente o fazem. Esses empréstimos são realizados simplesmente fazendo a correspondente entrada de  “credito” na conta de cada cliente recebedor do empréstimo, totalizado os $$ 9 bilhões .
     
      6) Ocorre que esses 9 bilhões “depositados ” em moeda meramente escritural são considerados novos depósitos, que outra vez dão aos bancos direito de emprestar 90% desse valor – ou seja $$ 8,1 bilhões.
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      7) Desse momento em diante ocorre uma coisa que se assemelha ao “milagre da multiplicação dos pães e peixes”: em operações sucessivas, os primeiros $9 bilhões vão se multiplicando em dinheiro emprestado ao publico em “moeda escritural” -- um nome impressionante aplicado ao dinheiro que os bancos emprestam sem ter --  simplesmente   “criado do ar ” .
     
      8) Dessa forma,  o total emprestado será: $$ 9 + (90% x 9) + (90% x 90%) x 9 + (90% x 90% x 90%) x 9 + (90% x 90% x 90% x 90%) x 9 + .....   Os que fizeram o ginásio no tempo em que se aprendia alguma coisa já perceberam que trata-se da soma dos termos de uma progressão geométrica decrescente, infinita, cujo termo inicial é a1= 9 e a razão  q = 0,9.        A fórmula que fornece o resultado é    S = a1 / (1- q) = 9 / (1-0,9) = 9 / 0,1 = 90;      $$ 90 bilhões !!
    
      9) Pouco importa como esses recursos são movimentados: os saques feitos em cheque ou moeda corrente voltam sempre como depósitos, no mesmo banco ou em outro do Sistema Bancário.
      
     10) Para todos os efeitos cheques funcionam como dinheiro.  É por essa razão que em economia os meios de pagamentos restritos (M1) são definidos como papel moeda em poder do público + depósitos à vista (que são os valores lançados à crédito nas contas dos clientes).
        
          11) Em suma, cada $$ 1 bilhão de aumento da base monetária gera $$ 10 bilhões de empréstimos ( = dinheiro = dívida ) mais os juros correspondentes, devidos aos bancos por emprestarem dinheiro “ criado do ar”.
     
      12) Para essa conta fechar é preciso que ao final do ciclo os tomadores de empréstimo tenham conseguido ampliar o espaça econômico criando bens e serviços adicionais, que sirvam de contrapartida a esse novo dinheiro posto em circulação, MAIS os juros.

Note-se que nesse sistema fechado não foi criado dinheiro para o pagamento dos juros, de modo que ao final do ciclo, a base monetária terá que ser ampliada de novo, no mínimo em quantidade suficiente para acomodar os juros.

É isso que obriga ao crescimento exponencial permanente  da economia, sob a pena do colapso total de um sistema que é indistinguível de uma “ pirâmide  “ financeira, que desaba quando se torna impossível conseguir participantes capazes de manter a ciranda girando com velocidade suficiente.

Resumindo:  um sistema econômico-financeiro onde cada centavo dele é criado por  dívida, tem duas premissas fundamentais:

A) Está sujeito à instabilidade e ao colapso no momento em que o crescimento de amanhã for insuficiente para pagar o endividamento de hoje, como a presente crise energética está fazendo acontecer.

B) Não teria como deixar de criar, como criou, o todo poderoso núcleo de poder mundial suprapartidário e supranacional de banqueiros, que manipula as estruturas políticas a seu bel prazer e transforma o planeta no tabuleiro de jogo do  oligopólio financeiro-industrial-militar.

Aconteça o que acontecer, parece muito difícil que a sólida estrutura do poder oligárquico mundial possa ser abalada, mas os sinais de instabilidade estão arregimentando ativistas que acreditam na possibilidade de reagir contra o sistema.

Nos Estados Unidos, principalmente no Centro-oeste, cerca de 3 milhões “preppers”, abrangendo com suas famílias mais de 10 milhões de pessoas, preparam-se para o confronto, dispostos a defender o direito que a Constituição lhes concede de possuir armas como último instrumento de defesa contra a tirania.

É de um desses grupos a iniciativa de difundir pela internet a animação mostrada a seguir, em que a história da criação do oligopólio é apresentada de um modo didático e bem convincente, a partir do avô dos bancos centrais  (Bank of England - 1679) e da bem sucedida armação de Rothschild, Rockefeller, J.P.Morgan  e outros banqueiros, para implantar o Federal Reserve nos Estados Unidos, em 1913.






segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O QUE FALTOU NO QUIOSQUE...

Porque ontem não dei quorum aos debates do seleto grupo de macróbios que se reúne aos domingos no Quiosque do Baixinho, frente à Almirante Pereira Guimarães, no Leblon, Fernando Albuquerque Lima passou pela minha porta a caminho do Bracarense para deixar uma página da seção “What’s News” do Wall Street Journal, com o artigo “ Os sonhadores previram o sucesso do gás de xisto nos EUA”.

Pois é, Fernando, li o artigo que você me indicou. 

O problema é que as News do What's News, como no resto da imprensa, raramente são "News" mas sim versões que interessam a algum grupo de poder, no caso os que estão ganhando milhões com o fracking -- menos com a extração e venda do óleo e do gás, que na maioria das áreas é econômica e energeticamente pouco rentável -- mas sim pelos continuados saltos no valor das ações, embalados por artigos como esse que você me deixou.

Do mesmo modo que no pré-sal, há um grande estardalhaço sobre a exploração dessas reservas, apontadas como capazes de tornar os Estados Unidos independentes de importação e até  exportador de petróleo --  mesmo sem haver ainda dados reais sobre a viabilidade a longo prazo dessa tecnologia, levando em conta os elevados danos ecológicos e a forte decadência da produção, que obriga a abrir milhares poços, e logo depois novos milhares, nas proximidades dos primeiros.

Se vosmecê ainda não viu, dê uma olhada no meu ultimo texto publicado no blog.
 
O fracking é problemático não apenas pelo insuficiente  E.R.O.E.I. (Energy Return On Energy Invested) mas, mais ainda, pelo absurdo custo da degradação ambiental que as petrolíferas se esforçam por desmistificar, mas que dessa vez é um caso sério e não porra-loquice de verdes, como você poderá ver no YouTube com os links seguintes:

Primeiro uma pequena amostra, existem dezenas semelhantes, com fogo em torneiras, poços de água explodindo, lagos, rios e valetas pegando fogo...  para não falar dos produtos químicos lançados no ar e infiltrados nas fontes que antes eram potáveis.
http://www.youtube.com/watch?v=U01EK76Sy4A

Em seguida, um  trabalho de difusão muito bem feito (excelentes imagens explicativas
à melhor ver em tela cheia) patrocinado pelo conjunto de associações que está tentando proibir o fracking na Europa. 


http://www.youtube.com/watch?v=uokmsSi7LTY
 
O seguinte é curtinho, lembrando que a irreversível estabilização (depois vem a queda) da produção de óleo barato, convencional, ocorreu mesmo em 2005, e que, dizer que isso pode ser compensado pela extração de óleo por métodos "heróicos" não passa de jogo de cena, um exercício de PR (public relations) que está tendo sucesso.

Depois, para relaxar, veja esse “rap“ bem balançante, que seria muito engraçado se não estivesse tratando de coisa séria,
 “ My water's on fire  tonight" :    http://www.youtube.com/watch?v=oHQu3SeUwUI

Por fim,"THE OIL JOURNEY", uma recapitulação sóbria do momento presente, feita pelo pessoal do Post Carbon Institute. Uma apresentação profunda, que aponta o caminho que resta.
Não perca o que vem depois dos 15:40 minutos:


Acho que deu p'ra mostrar que o caso é bem complicado.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013



O Cel. Jorge Ribeiro, meu colega de turma desde o CM, profissional especializado nos meandros da Informação e da Contra-informação, fez três perguntas sobre o pré-sal.
Prezado Mauro:  
Pouco depois de ler a notícia de que o consórcio formado pelas empresas Petrobras, Shell, CNPC, CNOOC e Total venceram o leilão do Campo de Libra e ouvir  no meio da  novela – o discurso da presidANTA, informando que os TRILHÕES obtidos no pré-sal contribuirão para a redenção da Educação e da Saúde no Brasil nos próximos 35 anos, tomei conhecimento do seu comentário, versando  sobre como as coisas estão, dez anos depois. Juntando seu comentário com o estardalhaço eleitoreiro do leilão, a baderna em âmbito nacional de sindicalistas, União Nacional de Estudantes, anarquistas, nacionais socialistas, idiotas úteis e trotskistas de diversas cepas, assomou-me um dúvida atroz que somente um “expert” em assuntos petrolíferos - como Vossa Alteza - é capaz de responder:
1) O consórcio tem tecnologia para chegar no pré-sal e extrair  de lá o “ouro negro”, de forma financeiramente compensatória? 
2) Caso positivo,  quanto tempo levaríamos para concretizar o projeto? 
3) Ou tudo isso não passa de uma enorme pantomima? 

Respondidas do modo abaixo.
Por partes:
1) Tecnologia para chegar no pré-sal eles terão, com certeza.
Todas as soluções de problemas e aperfeiçoamentos técnicos avançados pela Petrobrás e seus parceiros há muito que são conhecidos da National Security Agency  que -- como você sabe melhor do que eu --  há mais de 30 anos usa o complexo "Echelon" de espionagem eletrônica  para escutar, selecionar automaticamente e gravar o que interessa de toda e qualquer ligação telefônica, fax, e-mail, o que for, que circule por micro-ondas, em links terrestres ou de satélites, em qualquer lugar do planeta.   

Não pode haver dúvida de que qualquer novidade tecnológica importante para a "National Security" seja em seguida repassada para  empresas deles que possam fazer bom uso.  E os chineses tem o costume de roubar dos americanos tudo o que precisam.  Sendo assim, o mais provável é que hoje eles estejam até melhor preparados que a Petrobrás para o desafio da perfuração. 

2) Porém, extrair o óleo de forma economicamente compensatória  já é coisa mais complicada --  para todos:

Furar poços a partir de plataformas flutuantes separadas do fundo do mar cerca de 4 km  -- e depois prosseguir furando através de mais 2 km de sal quente (80/100 graus), mole, e muito mais  instável do que as rochas que estão acima e abaixo dele,  é um empreendimento arriscado por definição.  A operação posterior, pior ainda.

a) -  Os desenhos mostrando as plataformas, a tubulação e o fundo do mar são enganadores, porque se fossem feitos na escala correta a plataforma ficaria  muito pequena e a tubulação praticamente invisível.  Veja a figura anexa, onde ainda falta a perfuração posterior de sedimento, de rocha, de muito sal --  e de rocha de novo.             

  

Na verdade ninguém sabe como vai se comportar ao longo do tempo esse fio de cabelo, submetido a tanta instabilidade. 
Nem os custos de manutenção e recuperação dos desastres --  quando  for possível recuperar...  

b) Além disso, a corrosão dos tubos e válvulas pelo sal (por fora) e pelos ácidos sulfúricos e carbônicos da alta concentração de CO2 e enxofre (por dentro) obriga ao uso de ligas especiais, a serem também sujeitas ao teste do tempo.  

c) Existe também o gargalo logístico causado pelos 300 km de distância da costa, que vai exigir a implantação de uma rede de bases intermediárias onde se armazenem diesel, suprimentos e se transbordem pessoas, transportadas por distancias que estão no limite da autonomia da maioria dos helicópteros.     

d) Como o CO2 --  acusado de causador do aquecimento do planeta -- está presente em alta concentração nos hidrocarbonetos do pré sal, a Petrobrás declarou que adotará a solução politicamente correta de reinjetá-lo no reservatório subterrâneo, depois da separação, uma proposta complicada e encarecedora da extração.

e) Outras incógnitas importantes são a taxa média de decadência da produção e a quantidade real de óleo recuperável existente .
 O fato é que, no que diz respeito à economicidade da exploração do petróleo, o quesito fundamental tem a sigla E.R.O.E.I. (Energy Return On Energy Invested),  que era da ordem de 100 unidades de energia obtida para cada 1 investida, nos primórdios da exploração, foi caindo ao longo dos anos, e hoje é ainda próximo a 10:1 nos poços filét-mignon da Arabia Saudita -- apesar da presente necessidade de injetar 4 a 5 milhões de barris de água do mar para cada 10 milhões de barris de óleo tirado. Quando o  E.R.O.E.I. chega a 1, desaparece a  vantagem de extrair óleo para fins energéticos.    

A causa fundamental da crise da produção de petróleo é que os campos que vem sendo explorados há muitas décadas produzem com dificuldade crescente e as novas jazidas que vão sendo encontradas são de óleo e gás cada vez mais difícil de ser extraído, com o E.R.O.E.I. se aproximando perigosamente de 1.   

As esperanças de compensar a queda da produção com a exploração das jazidas de óleo "não convencional" (óleo polar, areias betuminosas, shale/tight oil, óleo de águas profundas) tem se dirigido principalmente: 

(I) ao pré-sal do Brasil (em primeiro lugar) e da Angola;
(II) aos depósitos de tight oil e de  kerogen  (que pode ser transformado artificialmente em petróleo) que   existem  em gigantescas formações (Bakken, Eagle Ford e outras) de shale  (que é uma rocha sedimentar tipo ardósia)  no meio Oeste americano, na Austrália e outras partes do mundo. 

O método  desenvolvido para a extração do tight oil e do kerogen, conhecido como fracking,
consiste em fazer poços horizontais onde se injetam produtos químicos sob pressão que fraturam a rocha e permitem levar o líquido à superfície para ser processado. 

Do mesmo modo que com o pré-sal, há um grande estardalhaço nacionalístico (e muita especulação na bolsa) sobre a exploração dessas reservas, apontadas como capazes de tornar os Estados Unidos e Austrália independentes de importação e mesmo  importantes exportadores de petróleo, mesmo sem haver ainda dados reais sobre a viabilidade a longo prazo da tecnologia no que diz respeito aos custos finais de produção, levando-se em conta os elevados danos ecológicos e a forte decadência da produção, que obriga a abrir novos poços nas proximidades dos pioneiros.     


3) Pantomima ?  Nos dois casos podemos dizer que sim, porque lá,  como aqui, existem fontes de energia importantes que podem gerar, ao longo do tempo, grandes recursos, mas não há seriedade nas afirmações retumbantes de que, aqui, vão trazer para o presente o "País do Futuro"  e, lá fora, transformar os Estados Unidos e a Austrália em novas Arabias Sauditas, como estão divulgando.

Por exemplo, quanto a afirmação de que o fracking brevemente tornará os Estados Unidos independentes da importação de petróleo, a projeção da produção americana  feita pela EIA (Energy Information Administration, do Depto de Energia), que já mostrei e repito abaixo, mostra que mesmo com uma grande injeção de shale oil/tight oil, a produção chega a  um pico dentro de 6 anos, com o resultado de que em 2040 a produção doméstica americana será pouco mais de 30% do suprimento de óleo dos USA.  

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