quarta-feira, 26 de novembro de 2008

“A normalidade da incompetência”



Na década de ’70 tive a oportunidade de ler um livro muito interessante, “O Princípio de Peter, ou As Leis da Incompetência” (The Peter Principle – de Lawrence Johnston Peter, 1969) que recomendo a todos porque, além de alertar sobre cuidados adicionais que devemos ter ao promover pessoas, em nossas próprias organizações, esclarece os motivos porque devemos sempre desconfiar da competência dos indivíduos que estão no topo da pirâmide, até de nós mesmos, quando nos situamos no cume.

O Principio de Peter afirma que em instituições estruturadas em posições de crescente responsabilidade, preenchidas pelo critério de competência, as vagas são ocupadas por indivíduos que demonstraram competência nos níveis inferiores e que vão sendo promovidos até atingirem seu nível de incompetência.

Fica assim perfeitamente explicada a completa desorientação que vem sendo demonstrada por Henry Paulson, Secretário do Tesouro Americano, altamente experiente no mundo dos Bancos de Investimento e na compra e venda de papeis de todo o tipo, mas que tem demonstrado um alto grau de incompetência nas desastradas tentativas de administrar uma crise pela qual, como presidente da Goldman and Sachs, foi um dos mais criativos e influentes responsáveis.

Em Setembro de 2008 ele começou resolvendo salvar Bear Stearns mas em seguida mudou de estratégia, permitindo o colapso de Lehman and Brothers, o quarto maior banco de investimento dos Estados Unidos, que ao ter seus ativos liquidados na praça causou um efeito em cascata que desvalorizou os ativos de outros gigantes periclitantes como AIG - American International Group e o Citigroup.

Em ato continuo o Paulson conseguiu do Congresso permissão para usar 700 bilhões de dólares para salvar a situação comprando os “ativos podres” dos bancos.

Mas, se o governo pagar o preço correto por esses papeis praticamente sem valor, os bancos serão obrigados a reconhecer pesadíssimas perdas, tornando pública sua situação de insolvência.

Se, de outro modo, o preço pago por esse “refugo” for suficientemente alto para salvar os bancos, os 700 bilhões bastariam só para uma pequena fração dos ativos duvidosos.

Quando isso ficou claro, Paulson desistiu da compra de “ativos podres” anunciando que em vez disso usaria os recursos do governo para adquirir ações dos maiores bancos, fornecendo assim o capital destinado a estimular a concessão de empréstimos.

Verificou-se em seguida que a maioria, se não a totalidade, das instituições, está insolvente, a começar pelas maiores, como o Citigroup, virtualmente “nacionalizado” nesta ultima semana de Novembro -- embora por razões ideológicas todos evitem admitir que está ocorrendo um crescente processo de nacionalização das instituições financeiras.

O caso do Citibank é emblemático de uma situação de impossível solução.

No curso das urgentíssimas decisões de Setembro, levando em conta que em seus balanços o Citigroup apresentava ativos correntes superiores a 2.000 bilhões de dólares Paulson determinou que o grupo absorvesse o Wachovia Bank, um banco enorme, que estava na iminência de quebrar.

Menos de oito semanas depois foi a vez do Citigroup revelar-se na mesma situação.

Com o seu valor de mercado reduzido a menos de 10% do que era em 2006, e na iminência do colapso – o Citigroup e o Governo americano identificaram otimisticamente um conjunto de cerca de 300 bilhões de dólares de ativos problemáticos (menos de 1% do total de papeis derivativos) e acordaram um complicado negócio de transferência de ações que na pratica levará o governo a absorver todas as perdas acima de 55 bilhões, e com elas, o Grupo inteiro.

Tornando ainda mais séria a situação, o Citigroup tem uma carteira maciça de cartões de credito – 185 milhões de contas em todo o mundo – que mesmo antes dos recentes episódios estava apresentando perdas por inadimplência 67% maiores que as de um ano antes e, pior que isso, com um número de clientes com mais de 90 dias de atraso muito acima desse patamar, prenunciando uma segunda onda de inadimplências que vai se somar à das hipotecas e agravar a situação dos "derivativos".

Pois, importante realmente é o fato de que do total mundial de mais de 500 trilhões de dólares de papeis derivativos (
ver postagem de 25.10.2008 - a "bomba de destruição em massa"), identificados pelo BIS (Bank of International Settlements), 181 trilhões eram ativos de bancos americanos, mais 95% deles resultando de negócios feitos diretamente entre comprador e vendedor ("over the counter"), sem intervenção de qualquer agência intermediária ou reguladora.


Desse total 168 trilhões concentram-se em três grandes grupos, sendo um deles o Citigroup.

Segundo os dados de 2008 do OCC (Office of the Comptroller of the Currency), a principal unidade do grupo, que é o CitiBank, tem em seus ativos algo da ordem de 37.100 bilhões (37,1 trilhões) de dólares dependentes de papeis derivativos, mais do que cinco Lehman Brothers, cuja falência já trouxe à beira do abismo o sistema financeiro mundial.

O risco do Bank of América é ainda maior -- 39,7 trilhões.

E o JPMorgan Chase, o maior de todos, com o dobro disso: 91,3 trilhões. Isto é, apenas um banco fazendo apostas de imenso risco, envolvendo uma quantidade de dinheiro equivalente a 13 Lehman Brothers, mais de 6 vezes a produção total da economia dos Estados Unidos !!

A escala das perdas escondidas nessa sinfonia de trilhões é tão enorme que, se não ocorrer antes, é bem possível que um dos primeiros atos do novo Presidente Barak Obama tenha que ser a decretação de um feriado bancário, seguido da completa nacionalização dos grandes bancos, de modo a assumir todos ativos podres e as correspondentes perdas, na esperança de fazer novamente fluir os mecanismos de credito emperrados.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

E agora... e o petróleo ???



Com a economia em expansão é certo que o preço do barril de petróleo tenderá para as alturas sempre que houver pouca folga entre a demanda e a capacidade máxima de produção.

Foi o que ocorreu à partir de 2006, até o primeiro semestre de 2008, quando a demanda mundial por combustíveis líquidos, oscilando no entorno dos 85 / 86 milhões de barris/dia ficou igual ou ultrapassou a capacidade de produção – causando a baixa dos estoques comerciais e estratégicos e levando os preços do barril de petróleo para mais de US$ 120.

A partir de julho de 2008 a queda de consumo nos paises desenvolvidos foi suficiente para gerar uma pequena folga entre demanda e capacidade de produção.

Esse fato, somado às repercussões econômicas da crise financeira, levou rapidamente o preço do barril para menos da metade do que chegou a custar em julho.

No corrente mês de novembro os dados fornecidos pelos relatórios “Short-Term Energy Outlook”, da USA Energy Information Administration – EIA, e “World Energy Outlook”, da International Energy Agency - IEA (ONU), ambos datados de 12.nov.2008, nos fornecem uma boa perspectiva da provável evolução da situação.

Os números apresentados mostram que, à despeito da crise, o crescimento da demanda em países não pertencentes à OECD (Organization for Economic Cooperation and Development), especialmente a China, América Latina e países exportadores do Oriente Médio, deverá compensar mesmo fortes declínios de consumo nos Países da OECD -- como está ocorrendo em 2008, onde apesar da queda de 1 milhão de barris por dia, constatada no consumo americano, está se verificando um aumento global do consumo da ordem de 100 mil barris diários.

Desse modo, a demanda por hidrocarbonetos líquidos (petróleo convencional + não convencional + líquidos condensados do gás + ganhos de refinaria + bio-combustíveis + sintéticos) até o final de 2008 está se mantendo na faixa dos 87 milhões de barris por dia, em media, sendo 74 milhões referentes a óleo cru (petróleo) -- níveis que se projetam virtualmente estáveis em 2009.

Mas o exame dos dados da EIA revela taxas de declínio anuais na produção de óleo cru que chegam a ultrapassar 20% nos campos de águas profundas -- que são os que decaem às maiores taxas -- sendo de 6,7% ao ano a media ponderada referente ao declínio da produção do conjunto dos campos atualmente existentes, o que significa a necessidade de aumentar cada ano a produção total (petróleo novo + líquidos em geral) em cerca de 5 milhões de barris diários (6,7% x 74 = 4,96), apenas para manter a produção global estabilizada.

Para atender ao crescimento da demanda após uma crise de curta duração a EIA projeta que até 2030 seria necessário somar 64 milhões de barris por dia à produção presente, o que exigiria um investimento absolutamente colossal, ano após ano, coisa virtualmente impossível em caso de depressão prolongada, e que exigiria preços do petróleo na casa dos US$ 80 / US$ 100, que é o mínimo custo estimado do barril adicional de petróleo extraído de águas profundas ou de jazidas de areias betuminosas como as do Canadá.

De qualquer modo, neste seu relatório de 2008 a IEA está prevendo para 2030 um preço de US$ 200 por barril, numa primeira demonstração de que está começando a reconhecer a verdadeira dimensão de uma crise enormemente subestimada nas avaliações anteriores.

Em suma, quanto mais demorar o retorno ao patamar de US$ 100 dólares o barril, mais provável será que  por falta do investimento adequado a queda de produção venha a tornar difícil  satisfazer a demanda, mesmo que ela, 
catastroficamente, se estabilize, ou lentamente se eleve acima do atual nível dos 85 / 86 milhões de barris diários.

sábado, 8 de novembro de 2008

Mas então...porque o dólar subiu ??



É.

O dólar ultimamente valorizou-se até 30% com relação a algumas moedas, chegando a 40% com relação ao real.

E agora os mesmos “especialistas” que juravam pelos fundamentos sadios da economia mundial e se mostraram completamente incompetentes para perceber o tsunami que se alevantava, elogiam as providências tomadas e “explicam” a alta do dólar como resultado dos Estados Unidos estarem enfrentando a crise com mais decisão do que o resto do mundo...

...quando, na verdade, essa valorização do dólar não passa de um incidente de prazo curto, inteiramente explicável pela enorme quantidade de recursos que os “hedge funds” e os demais atores do mercado global estão repatriando -- para cobrir suas perdas, ou para assumir posições de menor risco que ainda são atribuídas à moeda americana.

Trata-se de um movimento reflexo que não tem nada a haver com os fundamentos do dólar, que só tem piorado pela insistência em resolver a crise financeira pela via do aumento de liquidez numa situação que é, basicamente, de insolvência em grande escala, não de falta de liquidez.

Não foi por outra razão que o dólar valorizou-se mais fortemente com relação às moedas dos paises envolvidos no chamado “carry trade”, como o Brasil -- um país de economia robusta, forçado a manter elevadas taxas de juro para controlar o superaquecimento econômico e a inflação, onde os “hedge funds” e investidores de todo o tipo vem há muito tempo aplicando a 17% ao ano dinheiro tomado a juros mais baixos, seja, praticamente a 0%, como no caso do Yen, ou 1% em Francos Suíços, 2,25% em Euros, ou Dólares a 4,5%.

Como, em nosso país, grande parte do saldo do comércio exterior volta para lá, sob a forma de remessa de lucros e serviços, nossas reservas se acumulam lentamente, e porisso, além de reféns do valor do dólar -- que ao cair dilui seu valor -- boa parcela das tão badaladas “reservas brasileiras” de 200 bilhões de dólares fica compromissada com esse “dinheiro quente”, aplicado em ativos de grande liquidez, que tendem a sair rapidamente e que para isso necessitam adquirir grande quantidade de dólares, levando a taxa de cambio às alturas.

Porque a ninguém interessa a excessiva valorização do dólar, nem agravar as perdas dos investidores estrangeiros devidas à queda acelerada das ações brasileiras na Bolsa, o FED ofereceu ao Banco Central do Brasil uma operação de troca de moedas correspondente a um empréstimo de 30 bilhões de dólares, sem juros, para arrefecer o ímpeto e evitar que a evasão assumisse dimensões catastróficas.

Desse modo, embora a retomada da queda do dólar seja uma aposta fácil de ganhar, perdas irreversíveis vem ocorrendo e já ocorreram no Brasil porque o BC havia antes da crise estimulado as empresas brasileiras a especular com moedas em baixa, para compensar os prejuízos que o valor baixo do dolar causava às exportações.

A inesperada subida do cambio causou bilhões de prejuizo. Assim, com toda a ajuda do governo, pode-se contar com dias difíceis à partir de 2009, já que com a queda de preço das commodities o saldo comercial tenderá a zero, as empresas que tiveram grandes perdas reduzirão seus investimentos, e as remessas de recursos ao exterior continuarão elevadas, tendendo a aumentar o déficit externo.

Mas embora, historicamente, o dólar se beneficie nos episódios de fuga-para-a-qualidade que acontece quando cessa o carry trade, nas atuais condições não se pode esperar que a moeda de um país com 1 trilhão anual de déficit externo possa manter-se nessa posição por muito tempo.


Acima de tudo, não se pode esquecer que o Pico do Petróleo parece haver finalmente chegado, em 2008.

Ainda está pouco divulgado, mas há alguns dias o “The London Financial Times” informou que o relatório da IEA (International Energy Agency) a ser publicado no próximo dia 12 de Novembro estimou a queda de produção de petróleo na ordem de 9.1% ao ano, em média, nos próximos anos, nos campos que já ultrapassaram o pico, enquadrando-se no conjunto das previsões mais pessimistas.

Considerando que o pior do colapso econômico ainda não chegou, esse fato, por si só, mostra que não existe possibilidade de recuperação econômica a nível mundial.

Em termos de produção de petróleo, devido às características de demanda inelástica e da dependência econômica ao produto, tanto por parte dos produtores como dos consumidores,  pode-se esperar com certeza que independentemente das oscilações de preço  os produtores continuarão a produzir o máximo que puderem e os consumidores comprar o máximo que tiverem condições de comprar. 

Nesse contexto, porém, o Brasil se destaca de modo singular, não apenas por ter condições de alcançar auto-suficiência energética, mas por ter uma equipe econômica de nível internacional, temperada pelo sucesso no enfrentamento de graves crises regionais e mundiais, e que tem podido contar – ao contrario do que tem ocorrido, por exemplo, na Argentina – com o decidido apoio de um empresariado local, que tem se mostrado disposto a defender a moeda e os objetivos nacionais.

Parece que está se tornando próximo o momento em que nos desatrelaremos do dólar.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

The Glenn Beck Program - 13.10.2008

O link abaixo leva a um vídeo clip legendado em espanhol que merece ser visto, menos pelo duvidoso conteúdo e mais porque ele mostra que, aparentemente, está "caindo a ficha" de que a situação do dólar é insustentável, e os americanos mais bem informados estão beirando o pânico absoluto.

Note-se que o programa é de excelente nível, Glenn Beck é conhecido nacionalmente como um comentarista conservador, com programa difundido pela CNN, Fox, e as principais redes de TV americanas.

Clicar aqui para ver o You Tube Vídeo

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Um Cenário Hipotético

Há cerca de um ano (setembro/outubro de 2007), motivado pelo que foi exposto no “O Crepúsculo do Petróleo”, o Coronel Gélio Fregapani -- então integrante dos quadros da Agência Brasileira de Informações (ABIN) -- enviou para publicação na Revista de Inteligência o cenário hipotético sintetizado abaixo, que tem se revelado impressionantemente correto até o momento

Só o tempo dirá sobre o acerto do GEAB n° 28, publicado em 15.10.2008, que emite alerta sobre a ocorrência do INEVITAVEL colapso do dolar, com suspensão de pagamentos aos credores de papeis garantidos pelo governo (Letras do Tesouro, ações de Fannie Mae e Freddy Mac, etc) e emissão de um “Novo Dólar”.



O BRASIL E O FUTURO
Com todas as luzes vermelhas piscando, diante de um cenário de convergência de crises, nosso País se destaca como um dos mais bem dotados para sobrenadar no que tende a se tornar um embate feroz pela sobrevivência. O colapso energético-financeiro afeta em primeiro lugar e de forma mais contundente ao primeiro mundo, mas ninguém sai incólume. O setor exportador terá, de imediato, prejuízos brutais, que se refletirão imediatamente nos setores primários da produção.

Graças a estatura de país-continente e aos investimentos estratégicos das eras Vargas, Kubitshek e nos 20 anos do governo Militar, o Brasil já havia chegado muito perto da auto-suficiência, e agora não haverá outra saída senão descolar-se completamente da área do dólar e se tornar completamente autárquico, mantendo a economia doméstica em funcionamento através de investimentos na indústria, na agricultura e nos biocombustíveis, financiados em moeda própria. É escolher entre afundar com o primeiro mundo ou permanecer a tona do melhor modo que for possível. 

sábado, 25 de outubro de 2008

Alerta de Tsunami 2 - Enviado em e-mail circular de 30.09.08

Dia 15 de setembro enviei o "alerta de tsunami" econômico-financeiro reproduzido no final deste e-mail.

Para os que possam pensar que estou sendo muito “catastrofista”, quero chamar a atenção para o fato de que o incrível volume de 45 trilhões de dólares de papéis derivados do mercado de hipotécas americano, de per si inadministravel, foi pelo menos decuplicado pela extensão à economia mundial do mecanismo de criação dos chamados "hedge funds", da seguinte maneira:

a) num primeiro passo grandes Bancos de Investimento operando globalmente encorajaram (até mesmo fornecendo capital) Bancos Comerciais a fazerem empréstimos hipotecários.


b) em seguida os Bancos de Investimento compraram os direitos sobre estas hipotécas e as empacotaram junto com papéis vindos de diversos bancos e regiões do mundo, em grandes conjuntos chamados RMBS (Residencial Mortgage Backed Securities => Papeis Garantidos por Hipotécas Residenciais).


c) Os RMBS foram em seguida grupados em categorias ("prime", "ALT-A" e "sub-prime") segundo sua qualidade inicial e divididos em até 15 “tranches” (sub-conjuntos de rendimento crescente), classificadas por agencias especializadas em graus crescentes de risco, sendo AAA os de menor risco, depois AA, e assim por diante, até os de mais alto risco (que rendiam mais) denominados “equity” (“saldo”).


d) Como, apesar do melhor rendimento era muito dificíl conseguir investidores para as “tranches” de maior risco, os Bancos de Investimento passaram a empacota-las com outras de melhor nível, num outro tipo de papel chamado CDO (Collateralized Debt Obligation), que era por sua vez dividido em “tranches” levadas à classificação pelas agencias de risco, sendo as de maior nível classificadas AAA, e assim por diante.


e) Essas obrigações, transformadas por esse processo de mágica financeira -- que diluía a quase totalidade dos papeis “sub-prime” no interior de obrigações “seguras” AAA e AA -- eram então repassadas a Bancos, Fundos de Pensões, Fundos Soberanos, e/ou revendidos a investidores privados, com enorme proveito para os corretores, gerentes e diretores, remunerados com milhões de dólares por via de suas parcelas dos lucros e/ou comissões.


f) Como se não bastasse o tamanho do risco sistêmico introduzido por essa enormidade de papéis passiveis de perderem grande parte de seu valor pela inadimplência das hipotécas, os inovadores do mercado financeiro empilharam em cima desses os CDS (Credit Securities Swaps).


g) CDS são contratos bilaterais que nasceram de um mecanismo em que uma parte (por exemplo Bear Sterns, ou AIG) recebia pagamentos de um investidor em troca da promessa de pagar uma certa quantia em caso de diminuição do valor do papel adquirido pelo investidor, uma espécie de seguro, uma cerca de garantia (“hedge”) contra possíveis perdas.


h) Ocorre que, tratando-se de papeis não regulamentados, surgiu um mercado de CDSs comprados, vendidos e revendidos a “investidores” dispostos a pagar um prêmio mensal por uma apólice dando direito a receber uma compensação no caso de diminuição do valor de papeis (os mesmos RBDS, CDOs anteriormente citados) que não necessitam ser possuidos pelo “segurado”, nem emitido pela entidade “seguradora”.


i) Disso resultou uma jogatina crescente de “investidores” que aplicaram trilhões de dólares em apólices compradas, vendidas e revendidas diretamente no balcão ou pelo telefone, que na verdade não passam de apostas sobre se tal ou qual papel vai ou não vai ter seu valor de face aumentado ou diminuído dentro do prazo de validade da apólice.


j) Como os prêmios são pagos como segurança contra inadimplência, se os eventos previsto nos CDSs se multiplicarem, a entidade vendedora da “proteção” não tem como saldar seus compromissos e entra em regime de falência.


É isso que ocorreu com Bear Sterns, Lehman Brothers e AIG, e é isso que vai jogar no chão todo o castelo de cartas erigido pelos supostos responsáveis pelo sistema financeiro mundial, que montaram uma "bomba de destruição em massa" cuja dimensão não pode ser quantificada com precisão, mas que não deve ser muito menor do que a apresentada no gráfico abaixo, usando dados do BIS - Bank of International Settlements (clicar para ampliar):



Essa é a principal razão pela qual os Bancos Centrais de todo o planeta estão literalmente apavorados, porque cada entidade falida que não responde pela promessa de seus CDSs, faz com que se evaporem as centenas de trilhões de dólares que foram multiplicados nas contas de outras instituições (inclusive fundos soberanos, possuidos por Bancos Centrais), que podiam apresentar esses papéis como “ativos” seguros porque estavam garantidos contra perdas.

As mais bem informadas fontes tem repetido com insistência que os trilhões de dólares de papel criados no mercado de “derivatives” (RMBS, CDO, CDS e outros) com certeza superam os valores somados do suprimento mundial de moeda corrente, do produto mundial bruto, e do próprio valor agregado de todos os títulos e ações existentes no planeta.

É uma típica situação em que o rabo passou a abanar o cachorro, RAZÃO PORQUE É BASTANTE SEGURO CONCLUIR que a implosão do conjunto dos “derivatives” é iminente, e implica na implosão do sistema financeiro mundial.

Alerta de Tsunami 1 - Enviado em e-mail circular de 15.09.08


A extrema inelasticidade na demanda de energia fez com que o preço do barril de petróleo tivesse que chegar proximo aos US$ 150 para fazer a demanda cair, com reflexo no preço.

Mas num mercado de crescente escassez o preço tende a ficar no nível máximo que possa ser extraído de uma economia mundial -- que já está em recessão -- realimentando assim um circulo vicioso de recessão inevitável.
Como se isso não bastasse, a alta de preços -- devida à escassez de petróleo -- vinha sendo agravada pela especulação no mercado futuro de petróleo, e a queda dos preços para a ordem dos US$100, em vez de aliviar, piorou a crise do sistema financeiro porque com a queda do preço, o valor dos ativos expressos nos balanços das financeiras baixou, e elas necessitaram buscar mais capital num mercado já grandemente afetado pela chamada "crise das hipotecas".

Paralelamente, a inflação causada pelos altos custos de energia, combinada com recessão causada pela retração do crédito, fez com que as pessoas tivessem menos dinheiro para consumir ou pagar dividas, agravando o problema dos bancos abarrotados de duvidosos papéis garantidos por hipotecas e outros títulos afins.

Nesse contexto, na semana passada o governo americano praticamente estatizou as duas principais agencias de crédito hipotecário americanas, conhecidas como Freddie Mac e Fannie Mae, para evitar a falência e o conseqüente desastre causado pela perda de centenas de bilhões de dólares de investimentos feitos nessas empresas por Bancos Centrais e Fundos Soberanos de paises estrangeiros, principalmente a China.

No dia de hoje, 15 de setembro, deu-se publicidade ao pedido de falência de Lehman & Brothers, que ao ter seus ativos liquidados na praça vai causar um efeito em cascata desvalorizando ainda mais os ativos (esses bancos são obrigados por lei a avaliar seus ativos pelo valor corrente de mercado) de outros gigantes periclitantes como AIG - American International Group e Merrill Linch e outros, que dificilmente poderão ser salvos por intervenção estatal porque o tamanho do buraco é de tal ordem que nem o Banco Central Americano tem condições de cobrir completamente.

O grande problema, na verdade, é que todas essas instituições são grandes investidoras no mercado de CDS (Credit Default Swaps), coisa em que pouca gente ouviu falar mas que, por ser um mercado não regulamentado, alcançou dimensões estratosféricas de muitas dezenas de trilhões de dólares de papéis, garantidos por papéis, garantidos por papéis, garantidos por papéis crescentemente duvidosos, que mal se distinguem de quotas de uma pirâmide monumental, escorada por pouco mais que a esperança de que serão novamente compradas por maior preço, ao final dos prazos de vencimento.

Entre os anos 2000 e 2008 o volume desses papéis cresceu de 900 bilhões para 45 mil bilhões de dólares, correspondendo a mais do que o dobro do valor total do mercado de ações americano, mais de 6 vezes o tamanho do mercado de hipotecas, que está ocupando as manchetes, como pode ser visto abaixo (clicar para ampliar):

Esses papéis constam como "ativo" das financeiras.
Não existem suficientes recursos disponíveis em todo o mundo para serem usados como contrapartida dessa monumental massa de "capital" inconsútil.


Não há como determinar-se o valor "real" de qualquer fração desse volume, a não ser através da venda dos títulos na praça, que se verifica pela alienação forçada dos bens das financeiras falidas.

É uma situação que tem tudo para detonar um tsunami economico-financeiro capaz de tornar irrelevante a crise de 1929. Vamos saber em poucas semanas como os donos do poder mundial vão manobrar para sair dessa.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Os sistemas energético e econômico-financeiro estão inextrincavelmente imbricados.

Em primeiro lugar, e de um modo fundamental, porque moeda corrente, títulos, letras e papeis de todo o tipo só tem valor porque representam a contrapartida de bens criados de uma maneira ou de outra, em uma época ou outra, pela aplicação de energia, 55% da qual, nos dias de hoje, extraída do petróleo e gás.

Em segundo lugar pela grande importância do insumo energético, presente em todos os elos da cadeia de formação de preços.

Em terceiro lugar pelos trilhões de dólares injetados anualmente, sob a forma de petrodólares, na economia mundial.

Assim, o enorme aumento, entre 2004 e 2008, de mais de US$ 50 por barril, causado pela folga insuficiente entre demanda e oferta de petróleo, gerou para as empresas e países exportadores trilhões de dólares de dinheiro fácil, rapidamente reciclado no sistema financeiro internacional, e enormemente multiplicado pela criatividade de gestores de fundos de investimento, virtualmente isentos de restrições legais.


Para se ter uma idéia do volume de “capital” gerado sem base em qualquer coisa sólida, basta ler a descrição do mecanismo de criação, feita por Nouriel Roubini, professor da Universidade de New York, ex-assessor do Tesouro recentemente chamado a depor sobre a crise, no Congresso americano:

“Qualquer gerente agressivo e suficientemente ambicioso” – e houve milhares deles – “dispondo de 1 milhão de dólares, poderia montar uma carteira contendo papéis garantidos por hipotecas ou por outros títulos de credito no triplo desse valor".

"Os 4 milhões resultantes (na proporção $1 de ativo real para $3 de papeis representando dívida) seriam transformados num fundo cujo valor “multiplicaria” por 3 ou por 4 esses 4 milhões, investidos por sua vez num fundo “hedge”, que alavancaria novamente esses papeis, 3 ou 4 vezes, o suficiente para comprar uma pequena fatia de uma CDO (Collaterallized Debt Obligation) que, por sua vez seria alavancada 9 ou 10 vezes".

"Ao final dessa cadeia, o 1 milhão inicial estaria transformado em algo da ordem de 100 milhões de investimento, que por estar segurado através de CDS (Credit Default Swaps) poderia figurar como se fosse um ativo real, garantidor da solidez de instituições de credito”.

Esse castelo de cartas que – do mesmo modo que uma pirâmide financeira – só tem condições de manter-se enquanto existirem investidores dispostos a recomprar e revender os papeis, teria forçosamente que desabar no momento em que fosse abalada a confiança no valor das hipotecas e títulos de credito que lhe formam a base.

Quando em 2004 a produção de petróleo entrou num "plateau" ondulado, com a conseqüente disparada nos preços, houve muita discussão sobre até que altura o preço poderia subir antes que o elo mais fraco da cadeia se revelasse, fazendo a economia mundial entrar em colapso: US$100 ??, US$200 ??, US$300 ??

Não foi preciso ir tão longe: aparentemente o patamar dos US$ 100 dólares, ultrapassado no primeiro trimestre de 2008, foi suficiente para revelar a fragilidade da economia americana, sustentada numa bolha artificial de consumo, escorada numa montanha de crédito concedido sem cuidado, e a juros negativos, se levada em conta a inflação.

Com o explodir da crise, e a conseqüente queda dos preços de todas as “comodities”, inclusive o petróleo, o petróleo perdeu seu papel de catalizador da inflação, no exato momento em que chegava ao seu pico de produção.

De acordo com a EIA (USA Energy information Administration) e a IEA (International Energy Agency) a produção diária de combustíveis líquidos entre Jan e Set 2008 mostra que a media de 2008 ficará entre 86 e 87 milhões de barris por dia (petróleo convencional + não convencional + líquidos condensados do gás + ganhos de refinaria + bio-combustíveis + sintéticos).

Esse valor é muito próximo das últimas estimativas para o pico mundial de produção, previsto para ocorrer entre 2008 e 2012 -- mas antecipado para a data mais próxima em razão da previsão de atrasos na implementação de
produção nova, pela dificuldade de obtenção dos necessários recursos, em conseqüencia da crise.

Sendo assim, se apesar da queda do preço a demanda por petróleo se mantiver no entorno de 87 milhões de barris, dificilmente ela poderá ser atendida em 2009.

Enormemente mais grave que isso, porém, é o fato de que, se a demanda cair em conseqüência do abalo econômico, a ocorrência do máximo pico de produção em 2008 determina a impossibilidade física de fazer a produção voltar depois a esse nível, o que impedirá a retomada do crescimento econômico, mesmo que sejam satisfatoriamente resolvidas as seqüelas da crise financeira deflagrada em setembro/outubro de 2008.

domingo, 19 de outubro de 2008

Primeiro reflexo: A Crise Financeira

Os que me honraram com a atenção dada a "O Crepúsculo do Petróleo” talvez se lembrem de que chamei a atenção para o fato de que a profunda imbricação entre o sistema financeiro e o sistema energético implicava na derrocada conjunta dos dois sistemas, restando saber apenas qual deles daria o primeiro sinal da iminência do colapso.

Fazem já várias semanas que o mercado de ações desabou e o sistema financeiro travou, sem que as pessoas se dêem conta da vinculação entre essa crise e o fato de que a oferta mundial de energia veio aumentando de forma cada vez mais lenta nos últimos anos, até ficar virtualmente estabilizada desde 2004, ano em que a produção mundial de petróleo bruto parou de crescer, no patamar dos 73/74 milhões de barris diários.

(Os mais de 80 milhões de barris diários referidos pelas estatísticas acrescentam a estes cerca de 10/12 milhões de barris (os números variam) de "outros líquidos" condensados do gás, mais ganhos produzidos por aumentos de volume nas refinarias, mais bio-combustíveis, mais combustíveis sintéticos).


A partir do ano 2000, a inexistência de folga suficiente entre demanda e oferta de petróleo fez com que o preço do barril fosse multiplicado por 5, passando de US$ 20 a US$ 100 entre 2000 e 2007, e chegando passar dos U$ 140 em meados de 2008.

Os efeitos desse aumento brutal de custo de um produto que está presente em toda a cadeia de formação de preços refletiram-se rapidamente no aumento de preços dos alimentos, ameaçando aos mais pobres com a fome e aos mais ricos com as dificuldades resultantes da inflação, com grande preocupação da comunidade internacional.

Um aspecto estranho da corrente crise econômica é que os economistas acadêmicos não previram sua chegada e continuam perplexos quanto a razão do súbito aumento de preços de energia e de alimentos, que atropelou o mercado a partir de 2007, provocando o aumento de juros e a inadimplencia das hipotecas, derrubando assim a primeira peça da cadeia de eventos na direção do colapso do sistema financeiro.

Estariam melhor preparados se houvessem prestado mais atenção aos engenheiros.

É o que se constata no slide reproduzido em seguida, apresentado em março de 2008, aos alunos e professores do curso de graduação tecnológica em petróleo e gás, da Universidade Estácio de Sá:



A palestra de que esta imagem fez parte é bastante esclarecedora quanto a gravidade da situação em que nos encontramos, e pode ser baixada para ser vista com som e imagem, clicando no link adiante. Obs: baixar a primeira vez pode demorar alguns minutos.

O que está acontecendo, afinal ??


A situação, na verdade, é muito simples de entender:

1° - Para evitar a miséria, a economia precisa crescer, cada ano, mais que a população.
2 ° - Para a economia crescer desse modo, a produção de energia precisa crescer, cada ano, tanto ou mais que a economia e a população.3 ° - Para a produção de energia crescer assim, a oferta de combustíveis fósseis (responsáveis por 95% do transporte e 71% da eletricidade) precisa crescer, cada ano, mais que o conjunto energético.4 ° - Para a oferta de combustíveis fósseis crescer dessa forma, a produção de petróleo e gás (70% dos fósseis) precisa aumentar, cada ano, mais que o conjunto dos fósseis, que inclui o carvão, muito mais difícil de crescer. 5 ° - Para a produção de petróleo e gás aumentar nesse ritmo, a produção de petróleo (65% do total) precisa acompanhar essa taxa, crescendo, cada ano, mais que a economia e a população.6 ° - Sendo assim, em termos globais:a) a mera estabilização da produção de petróleo e gás significa recessão econômica;b) a queda de produção de petróleo e gás significa depressão econômica;
c) a queda irreversível de produção de petróleo e gás é sinônimo de desastre global, com o agravamento da fome, da convulsão social, e a disseminação das chamadas “guerras de escassez”.

7 ° - Acontece que desde 2004 a produção mundial de combustíveis líquidos e gás se encontra praticamente estabilizada no entorno dos 80 e poucos milhões de barris diários (petróleo + outros líquidos).


8 ° - As dificuldades de todo o tipo conseqüentes da crise financeira e que se refletem nos projetos de produção nova previstos para o próximo quadriênio (inclusive na exploração da camada pré-sal, no Brasil), tornam certo que a ocorrência do "pico de produção" mundial de petróleo crú, previsto para ocorrer entre 2008 e 2012, acontecerá no corrente ano, iníciando uma irreversível queda de produção, dificilmente compensada com acréscimos na produção de "outros líquidos " de mais baixo teor energético.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O Crepúsculo do Petróleo

O que motivou este Blog



 Em "O Crepúsculo do Petróleo” (©2005 - Editora Brasport),  a constatação de que energia é a capacidade de produzir trabalho, associada ao conceito de capital como trabalho acumulado, levou à formulação da hipótese de que, grosso modo,  o  “capital” que representa o total da riqueza fluindo em certo período em uma sociedade pode ser medido pela energia despendida no mesmo período para produção e o desfrute dos bens acumulados.  

Um economista diria que o valor do dinheiro decorre fundamentalmente da crença de que ele possa ser trocado por bens e serviços, mas do ponto de vista dos mais afeitos a realidades físicas,  o que é indistinguível de “capital” – e confere valor ao dinheiro – é o fluxo de energia aplicada como trabalho na produção de bens e serviços.

Se representarmos por P o valor de todos os bens e serviços produzidos num período elementar de tempo dt,  então 
                        
pode ser considerada a criação de riqueza (capital) ocorrida no tempo t em que foi simultaneamente despendida uma quantidade ε de energia. 

Inversamente, a medida da energia armazenada em um concentrador qualquer de energia corresponde ao capital representado pelos bens a serem criados por sua capacidade de produzir trabalho.

Desse modo, a energia armazenada no subsolo em consequência do enterramento de incontáveis gerações de formas de vida animais e vegetais, ou outro eventual tipo de concentração abiótica, pode ser considerada como um incomensurável  depósito de capital virtual, uma conta bancária dotada de enormes fundos  à disposição dos primeiros que tiverem meios adequados à sua extração.


No livro citado acredito haver conseguido demonstrar de modo suficiente que os combustíveis fósseis -- principalmente o petróleo, jorrando em grande quantidade – foram os instrumentos que capitalizaram a expansão da nossa civilização industrial, desenvolvendo a “aldeia global” que conhecemos, no incrivelmente curto espaço de tempo decorrido entre as décadas de ’30 e ’40, e o ano 2000.


Creio haver mostrado também as razões pelas quais a partir do momento em que esse jorro de “ouro-negro” deixar de crescer, a economia mundial – que depende, cada ano, do crescimento dele para poder crescer – entrará inevitavelmente em colapso.

O fato concreto é que a publicação desse livro provocou um inesperado aumento da minha quota habitual de e-mails, originada de velhos e novos amigos, ou de pessoas desejosas de comentar as afirmações do livro, ou de gente preocupada com as providências cabíveis, em termos familiares e pessoais, ante um quadro sombrio de crises encadeadas, deflagradas pela crise energética.

Não se pretende com este blog outra coisa que a criação de um canal mais facilmente acessível, que melhore a eficácia dessa troca de informações.