Problema central: A questão energética
Não
podemos desviar a atenção do fato de que os problemas ambientais são parte
integrante da questão energética, a mais fundamental das necessidades de todos
os seres, que de energia precisam para manter-se vivos, crescer e locomover-se; e dentre
eles, mais do que todos, o "ente vivo" que é o complexo simbiótico da civilização
industrial.
Em 1930 a produção total de energia per capita – medido em barris equivalentes de petróleo – era 3,35 barris por habitante. Nos 40 anos seguintes a produção se expandiu numa proporção muito superior ao aumento da população, até o máximo de 11,15 barris per capita atingido em 1970, a partir do que foi decaindo até o nível presente de cerca de 4,5 barris per capita.
Em 1930 a produção total de energia per capita – medido em barris equivalentes de petróleo – era 3,35 barris por habitante. Nos 40 anos seguintes a produção se expandiu numa proporção muito superior ao aumento da população, até o máximo de 11,15 barris per capita atingido em 1970, a partir do que foi decaindo até o nível presente de cerca de 4,5 barris per capita.
Isto deveu-se ao fato de que o pico de produção da principal fonte de energia da
civilização global, o petróleo com alto EROEI *(facilmente extraído), foi ultrapassado em 2005.
À despeito da crise econômico-financeira detonada em 2008 -- apenas três anos depois -- todos os produtores continuaram e continuam
tirando do solo e vendendo o MÁXIMO de petróleo que conseguem extrair de seus
poços, mas a produção de todos os tipos de óleo vem crescendo com grande dificuldade.
O exame das estatísticas de
produção de petróleo mostra que a produção mundial de óleo cru (mesmo com
a discutível qualificação de "óleo cru" dada à totalidade dos líquidos originados do fracking), era da ordem de 72.000.000 barris diários em 2004 e
subiu para 76.000.000 em 2013 (dos quais 2.000.0000 originados do fracking), isto é, um aumento de 5,55%
em 9 anos, (+0,66% ao ano), totalmente
abaixo das taxas anteriores de 2% a 3% , necessárias a manter o esperado ritmo
de crescimento da economia.
(clicando AQUÍ NESSE LINK
a EIA - Energy Information Administration dos USA fornece tabelas flexíveis
onde podem ser obtidas informações atualizadas sobre os diversos produtos e
produtores)
As tabelas "total oil supply" de produção incluem como "outros líquidos" tudo o que remotamente possa se chamar de líquidos energéticos, inclusive combustíveis sintéticos e biocombustíveis de potencial energético mais baixo.
Essas tabelas mostram cerca de 83.000.000 de barris diários em 2004 e 90.000.000 em 2013, um aumento de 8,43% ( +0,94% ao ano), resultado de 9 anos de esforço de compensação das quedas da quase totalidade dos campos.
As tabelas "total oil supply" de produção incluem como "outros líquidos" tudo o que remotamente possa se chamar de líquidos energéticos, inclusive combustíveis sintéticos e biocombustíveis de potencial energético mais baixo.
Essas tabelas mostram cerca de 83.000.000 de barris diários em 2004 e 90.000.000 em 2013, um aumento de 8,43% ( +0,94% ao ano), resultado de 9 anos de esforço de compensação das quedas da quase totalidade dos campos.
Fracking,
pré sal, óleo polar, canadian sands e
outros substitutos caros, dificilmente viáveis e/ou de vida curta, podem ser
esquecidos como "solução" para a inelutável queda de produção dos
milhares de campos das províncias petrolíferas que envelhecem por todo o mundo.
Fracking – o mais badalado entre eles por
ter produzido um salto na produção dos USA e atraído recursos de milhares de
investidores para uma “bolha” especulativa de que os tradicionais produtores mantiveram
significativa distância – exaure rapidamente os hidrocarbonetos presos entre os
folhelhos de ardósia e exige a constante perfuração de milhares de novos
poços para manter produção, com break even point dependente de altos
preços de venda do barril extraído.
Não há como duvidar
que o pico de produção do ouro negro que capitalizou o século XX foi
ultrapassado nesse período.
Se alguém não se deu conta
ainda do brutal impacto dessa falta de crescimento sobre a oferta global de
energia, a mera inspeção das curvas abaixo deveria ser suficiente para
acordar o mais teimoso dos céticos.
O
gráfico da EIA (Energy Information Administration) mostra que a defasagem entre
o crescimento da produção de óleo cru projetado em 2005 e a produção realmente
alcançada em 2010 já era da ordem de 12 milhões de barris por dia, chegando
hoje (2015) aos 20 milhões de barris diários, pois a produção de óleo cru
permanece no entorno de 78 milhões
quando deveria ter alcançado 100 milhões pelas taxas de crescimento anteriores.
Se olharmos
os dados da produção total de "liquidos" energéticos, fornecidos pela
BP (British Petroleum), isto é, petróleo cru MAIS derivados do gás de petróleo
MAIS areias betuminosas, MAIS "fracking technology", MAIS
combustíveis sintéticos MAIS etanol, biodiesel, etc, etc. a defasagem em 2010
era aproximadamente a mesma, 12 milhões diários, algo também por volta de dos 20 milhões de
barris na data presente.
Ora,
considerando que uma usina atômica do porte da Usina de Angra dos Reis gera em
um ano 11.000 Gwh, o
presente déficit energético precisaria ser compensado com imediata entrada em
operação de 1.152 usinas iguais a de Angra dos Reis. E no
próximo ano, mais 100 usinas, para compensar a falta de crescimento no ano
corrente.
Um
extraordinário golpe na economia mundial, que repercute diretamente no valor do
dinheiro.
De onde vem o valor do dinheiro ?
Um
economista diria que o valor do dinheiro decorre fundamentalmente da crença de
que ele possa ser trocado por bens e serviços, mas do ponto de vista dos mais
afeitos a realidades físicas, o que é
indistinguível de “capital” – e confere valor ao dinheiro – é o fluxo de
energia aplicada como trabalho na produção de bens e serviços.
Em “O Crepúsculo do Petróleo”, a
constatação de que energia é a capacidade de produzir trabalho,
associada ao conceito de capital como trabalho acumulado, levou à
formulação da hipótese de que, grosso modo,
o “capital” que representa o
total da riqueza fluindo em certo período em uma sociedade pode ser medido pela
energia despendida no mesmo período para produção e o desfrute dos bens acumulados.
Se representarmos
por P o valor de todos os bens e serviços
produzidos num período elementar de tempo dt, então
pode ser considerada a criação de riqueza (capital) ocorrida no
tempo t em que foi simultaneamente
despendida uma quantidade ε de energia. A razão ε/C = κ determina
a taxa de conversão da quantidade de energia consumida em certo período, em unidades de valor da riqueza produzida ou transacionada
no mesmo período.
Num “peer reviewed paper” publicado em 2011 Timothy J. Garret, do Departamento de Ciências Atmosféricas da
Universidade de Utah, chegou a conclusão semelhante à exposta em “O Crepúsculo
do Petróleo” e calculou
a relação ε/C (consumo
energético mundial / produto bruto mundial medido em 2005 Market Exchange
Dollars), entre 1970 e 2009, em
intervalos de 5 anos, revelando um índice praticamente constante em torno da
média de 7,05 watts para cada 1000 US$ de
produto mundial
(clicar sobre a imagem para ampliar).
(clicar sobre a imagem para ampliar).
O gráfico
abaixo mostra a inequívoca correlação entre os dois parâmetros, e a razão ε/C = κ praticamente
constante nesse intervalo. O produto bruto está referido a 100 em 1970.
A relação
direta entre consumo global de energia e produto bruto mundial mostra que a
economia é capitalizada diretamente pelo consumo de energia, que basta deixar
de crescer para determinar a desestabilização de um sistema econômico que depende de permanente expansão.
Assim, sendo
os combustíveis fósseis, principalmente o petróleo, as mais importantes fontes
de crescimento energético – sem alternativas de substituição que possam ser
implementadas à tempo – se deixarem de ser usados ou até mesmo mantiverem-se
estáveis no atual patamar de utilização, isso será por si só causa determinante
do colapso da atual civilização, independentemente dos demais problemas
ocasionados pelas mudanças climáticas.
A contribuição
dos combustíveis fósseis é tão importante que determina a impressionante
correlação entre produto bruto mundial e a concentração de CO2 na atmosfera,
mostrada abaixo:
Isto é, se o produto mundial cresce, cresce a concentração de CO2, linearmente. Desse modo, para sustar esse crescimento é necessário cessar o crescimento da economia mundial -- o que é sinônimo de desastre total, já que o sistema econômico tal como existe hoje quebra se parar de crescer...
Então, se é verdade que a sensibilidade climática à concentração de CO2 é tão alta como supõe-se que seja, a lógica nos obriga a aceitar que estamos diante de um colapso próximo e inevitável, tanto em caso de suspensão das emissões de CO2 -- que realisticamente não há como possam ocorrer, como -- sem essa suspensão -- em consequência dos múltiplos feedbacks positivos que levarão rapidamente a temperatura a níveis insuportáveis.
Se
afirmações desse tipo são desalentadoras e politicamente incorretas, me
desculpem, mas só
posso dizer, repetindo Lutero, "Ich kann nicht anders".
*E.R.O.E.I = Energy Return On Energy Input
Caro Mauro,
ResponderExcluirNovamente parabéns pelo texto esclarecedor.
Os EUA conseguiram, graças ao gás de xisto, elevar sua produção de 5 milhões de barris/dia em 2008, para 7.4 milhões de barris/dia em 2013. Olhando apenas os dados absolutos, esse acréscimo de 2.4 milhões de barris/dia não fazem muita diferença em escala global. No entanto, proporcionalmente representam um aumento de quase 50% na produção norte americana em um intervalo de apenas 5 anos. Eles (EUA) dizem ser possível implementar a extração, e posterior condensação, em todo o mundo; e parecem já ter feito, inclusive, o mapeamento das regiões mais rentáveis. Se isso for verdade, poderíamos observar um aumento da produção mundial para algo em torno de 110 milhões de barris/dia por volta de 2020?