quarta-feira, 24 de junho de 2009

A Tempestade Perfeita

Os economistas da moda, e os interesses que os alimentam, continuam a ignorar que o detonador da Depressão Econômica que se espalha pelo mundo foi o atingimento do atual patamar-limite da capacidade mundial de produção da energia barata do petróleo convencional, alcançado no período 2004/2009, no entorno dos 72/73 milhões de barris diários de petróleo crú.

Por esse motivo continuam a considerar que a crise é conseqüente da concessão irresponsável de empréstimos nos EUA - e que os pacotes de estímulo e medidas de salvação sem precedentes já mostram seus efeitos na elevação dos índices da Bolsa, ocorrido no último trimestre.

Na verdade pode-se verificar facilmente que depois de cair para menos que 46% do valor que tinha em 2007, o índice Dow Jones, à custa de muita propaganda enganosa e de investimentos bilionários, teve uma cambaleante “recuperação” para níveis próximos de 61% do valor inicial, que já volta a instabilizar-se porque a crise evoluiu tão rapidamente que tornou obvio que a tentativa de resolver o problema pela injeção de dinheiro sem lastro na economia só piora uma situação que é de “ruptura sistêmica” – uma descrição que já entrou na linguagem do próprio establishment dominante.

Desse modo, devido à ausência do enfrentamento da origem do problema, devemos nos preparar para a superposição da crise energética com a convergência de três vendavais particularmente destruidores, a “tempestade perfeita” que vai desabar sobre o mundo na segunda decada deste século:

1º) a sucessão de falências de bancos, empresas, países, regiões;
2º) o desemprego maciço;
3º) e, finalmente, a crise terminal dos Títulos do Governo Americano e do Reino Unido, projetando a quebra do Dólar e da Libra Esterlina,  com a cessação de pagamentos dos Estados Unidos  e do Reino Unido, que estão no cerne do sistema financeiro.

O que do ponto de vista energético torna essa situação cada dia mais clara é o fato de que em 2009, pela primeira vez, a EIA (Energy Information Administration - Americana) e a IEA – International Energy Agency demonstraram em seus relatórios estar se juntando aos geólogos de petróleo e outros conceituados especialistas do ramo que vem há alguns anos alertando que a produção mundial de petróleo barato, convencional, já atingiu o nível máximo sustentável e que tende a entrar em declínio, causando o caos econômico global.

A isso se soma o alerta do próprio relatório 2009 da IEA de que, com crise ou sem crise, a demanda dos países asiáticos por energia em 2030 tende igualar-se ao consumo dos principais países do “primeiro mundo”.

A edição de 2006 previa que a China ultrapassaria o consumo americano em 2026/2030; na edição de 2007 era 2021/2024; em 2008 o numero foi 2016/2020; no corrente ano a EIA está prevendo que a China já ultrapassará o consumo americano entre 2010 e 2014!

A conseqüência inelutável disso reflete-se no aviso dado pela Arábia Saudita de que dentro dos próximos 2 ou 3 anos os preços do petróleo estarão em nivel igual ou maior do que o pico alcançado em 2008.

As curvas abaixo foram feitas a partir dos dados obtidos dos relatórios da EIA, da IEA, e da OPEP datados de junho/2009.

A linha vermelha mostra a produção total de "líquidos", que inclue, além do petróleo crú, os liquidos condensados do gás, o NGL, os biocombustíveis, os "ganhos de refinaria" e os combustíveis sintéticos. A linha negra mostra a estimativa de demanda. Em MBD milhões de barris por dia, indicados no eixo da esquerda.
A linha verde pontilhada mostra a media ponderada dos preços em US$ por barril, extrapolada a partir de 2009.
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Uma situação totalmente adversa para a recuperação da economia mundial, dentro da qual um dos poucos vencedores poderá ser o Brasil que, além dos bio-combustíveis, terá o benefício da produção dos grandes campos ultra-profundos da camada pré-sal.

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