quinta-feira, 20 de maio de 2010

O AGRAVAMENTO DA TEMPESTADE PERFEITA

De modo geral as pessoas não estão sabendo avaliar a enormidade das conseqüências do vazamento de óleo no Golfo do México que, para começar, é muito maior que os 5.000 barris diários inicialmente anunciados.

A primeira seqüela é o reflexo negativo nos programas de busca de petróleo em águas profundas, que são necessários para minimizar o efeito da queda de produção, que se prevê acelerada a partir de 2012.

O que resulta numa segunda e fundamental seqüela, que é o agravamento da “tempestade perfeita” decorrente da conjuminação da crise energética com a convergência das crises financeiras européia e americana, deflagradas primeiramente em 2008 a nível de bancos privados – quando a demanda por petróleo encostou no teto de produção e o alto preço do produto descarrilhou a economia – e que vai agora galgando seu segundo patamar, a nível de Bancos Centrais e dos respectivos Estados, que não tem, acima deles, quem os possa resgatar adquirindo papeis sem valor, como eles próprios fizeram com os bancos privados.

O mais grave de tudo é que ao longo da pseudo-recuperação econômica de 2009 foram adicionadas varias dezenas de trilhões de dólares à ”bomba de destruição em massa” representada pelo mercado de papeis derivativos, que já ultrapassou os 600 trilhões de dólares, numa monumental pirâmide de papeis sem lastro que supera os valores somados do suprimento mundial de moeda corrente, do produto mundial bruto, e do próprio valor agregado de todos os títulos e ações existentes no planeta.

Essa é a razão principal porque o Banco Central Europeu se encontra beira do pânico, já que cada inadimplência Estatal fará com que se evaporem trilhões de euros/dólares de fundos soberanos e outros possuídos pelos Bancos Centrais e privados, contagiando todo o sistema financeiro mundial.

Como sempre ocorre em tempos de grandes crises, o caminho fica aberto a todas as alternativas políticas, por mais destrutivas ou inviáveis que sejam.

Tem havido comentários de que os comunistas estão se preparando para derrubar o governo eleito e retirar a Grécia da União Européia. Mas... “comunistas” de quais “meios de produção”, num país cuja economia está principalmente fundada no turismo, e não haverá nenhuma riqueza a distribuir, mas somente empobrecimento, quando os turistas pararem de aportar ?

O que nas últimas semanas está acontecendo na Europa é que as massas despertaram para a realidade da falência de todo o sistema, e o problema financeiro deslocou-se para a área política, o que não ocorreu ainda nos Estados Unidos.

De qualquer modo, tanto a Europa quanto os Estados Unidos já esgotaram seus paióis de munição econômica, não tem a menor condição de salvarem-se mutuamente, e vai se aproximando o momento em que eles próprios passarão a correr o risco de desmanche, como inesperadamente se deu na União Soviética.

O que nós, de condição periférica, precisamos determinar, é o caminho a tomar nessa espiral descendente de insolvência e tribulação.

As organizações e os países islâmicos radicais vão fazer o possível para piorar as coisas, e podem conseguir muito nessa direção, dificultando as exportações de petróleo e estimulando as populações imigrantes à violência política.

Com exceção da Índia – desprovida de recursos energéticos – os paises continentais integrantes do BRIC parecem ter boas possibilidade de sobrenadar no colapso, com grau de sucesso dependente de sua capacidade de criar economias complementares adequadas a um quadro de grande escassez de recursos.

Com relação ao nosso País, não há muito que acrescentar ao recomendado há cerca de cinco anos na primeira edição de “O Crepúsculo do Petróleo”, na previsão dessa situação:

Para o Brasil possivelmente não existirá outra saída senão descolar-se completamente da área do dólar e tornar-se virtualmente autárquico, mantendo a economia doméstica em funcionamento através de programas internos de investimento na indústria pesada e na agricultura; financiados por moeda própria, títulos e papéis negociáveis em nossas próprias Bolsas de Valores; bancados pelo vigor de uma economia capitalizada por nossas fontes de energia renovável; apoiados por nossa ampla força de trabalho; por um suficiente mercado interno; e pelo estreitamento dos vínculos com a China, com a Índia e com a Rússia, para o aproveitamento das evidentes oportunidades de intercâmbio nas áreas energética, de alimentos e de tecnologia avançada.


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