quarta-feira, 12 de novembro de 2014

De surpresa, esboça-se uma bem merecida catástrofe final ...


Este blog e o livro que o motivou tiveram origem na percepção de que os limites ao crescimento impostos pelos recursos finitos do nosso planeta implicariam no colapso da atual civilização globalizada tão logo escasseasse a principal fonte de energia abundante que a possibilitou.

            Na verdade, a desatenção concedida, de modo geral, aos limites de crescimento é tão anticientificamente absurda, que somente um apego inconsciente às suas origens religiosas e metafísicas justifica a crença de que dificuldades irremovíveis serão sempre resolvidas a favor do homem.

            Mas o fato é que, à despeito de negação e à descrença continuada, o processo de crise irreversível  vislumbrado uma década atrás prossegue inelutável,  com as  dificuldades políticas e econômicas avultando por toda a parte enquanto se discute ainda se o escasso crescimento da matriz energética se deve à crise ou se, como foi previsto, a crise é motivada por essa causa fundamental.

            Por outro lado, poucas dúvidas podem restar de que nos dias de hoje, com  200 mil nascimentos e 80 mil mortes por dia e uma população chegando aos 7,3 bilhões, já atingimos o estágio de crescimento que é mais que suficiente para enxovalhar toda a Terra e esticar até os últimos limites a capacidade de produção sustentável do solo, de eliminação dos poluentes, de recuperação dos cardumes e  preservação da biodiversidade do planeta.  

            Continuamos impávidos a interferir no meio ambiente e a expandir as fronteiras de nossa espécie, sem atenção para o fato de que,  em consequência disso, a cada dia que passa extinguem-se irremediavelmente mais de uma centena de outras espécies, dentre as milhares espalhadas por todo o globo.

            Veio a ocorrer, porém, que a nossa capacidade de afetar a natureza chegou a tal ponto que tornou impossível ignorar efeitos crescentemente adversos, entre eles, com toda a certeza,  o das mudanças climáticas.

            Não há como argumentar coerentemente contra o fato de que, superpondo-se às causas naturais, alterações climáticas antropogênicas sejam conseqüências necessárias  de uma civilização globalizada que nos últimos 150 anos transformou milhões de km2 de campos e mata virgem em centros urbanos e industriais, interligados por rodovias pavimentadas e redes elétricas que permanentemente degradam energia mais nobre em calor, numa teia planetária de fios, pedra e concreto de baixo calor especifico, que de dia esquenta rapidamente e à noite devolve o calor à atmosfera em meio a uma iluminação feérica que vista do espaço se assemelha a uma vitrine anunciando a superioridade da espécie humana.  



            Civilização global desse tipo, por si só esquenta o planeta, não apenas pela geração de calor e a produção de gases do efeito estufa, mas também pela introdução de ciclos diversos de realimentação positiva que reforçam-se uns aos outros aumentando o efeito que cada um teria separadamente.


            A atenção especial concedida ao CO2 na conferência sobre o clima e o meio ambiente no Rio de Janeiro em 1992,  no protocolo de Kioto em 1997,  em inúmeras convenções e em campanhas bem providas de fundos, acabaram causando um acirrado debate entre os defensores das medidas paliativas e os que descreem da importância do CO2 e atribuem as variações climáticas a causas cíclicas naturais e que, baseados em variações para mais e para menos observadas nos diversos continentes, procuram mostrar que a temperatura média da terra está oscilando dentro de um “plateau” desde 1998.

          Mas a medida da variação do conteúdo energético dos oceanos mostra claramente que houve uma variação no calor acumulado da ordem de 5 para 20, comprovando um grande aumento na quantidade de calor armazenado principalmente no mar – não no conjunto das massas de terra, gelo e ar.


            A energia concentrada nas correntes aquecidas do mar  e do ar que se move sobre ele, tem provocado um acelerado derretimento nos gelos polares, principalmente os do Oceano Ártico, diretamente atacados pelas ramificações ainda quentes da corrente do Golfo, as quais costeiam a Gröenlandia e se dispersam entre as bordas do mar congelado e o extremo Norte da península escandinava.


            Em consequência disso estão ocorrendo grandes variações no  “Stream Jet” do Ártico, corrente de ar  normalmente fluindo na altura da latitude 60o e que passou a ondular fortemente causando extremos de frio e calor e eventos meteorológicas nunca antes observados, sendo digno de nota que as temperaturas continentais mais quentes e mais frias jamais registradas, ocorreram depois do ano 2000.



Um problema maior se alevanta.


            O acelerado degelo testemunhado pelo espetacular desabamento de gigantescas paredes de gelo, o galopante recuo das geleiras, a inusitada fragmentação e a constante diminuição da espessura da capa de mar congelado para menos da quinta parte do que era vinte anos atrás, deve-se simplesmente ao fato de que na região Ártica é possível constatar um processo acelerado de inegavel aquecimento, que a partir da década de 1990 levou temperaturas médias do entorno de 0oC para cerca de 2oC.

            Foi nessas condições que, em 2010, a literatura científica reportou pela primeira vez a ocorrência de gás metano borbulhando no Oceano Ártico.

            A importância dessa descoberta, que alarmou enormemente à  comunidade científica, se deve ao fato de que o gás que estava sendo liberado originava-se dos imensos depósitos de um composto sólido espalhado no sedimento do fundo dos mares e no “permafrost” do Ártico, denominado Clathrato de Metano ou simplesmente Clathrato, que aprisiona grande proporção de metano dentro de uma estrutura cristalina de água, semelhante ao gelo.

            O Clathtrato é perfeitamente estável dentro d‘água com temperaturas no entorno dos 2oC ou em rochas sedimentares da superfície cuja temperatura média seja menor que 0oC, mas torna-se instável e libera o gás ao elevar-se a temperatura.

            Uma vez que o metano é um gás muito mais potente que o CO2 como causador de  “efeito estufa”, as gigantescas quantidades de Clathatro existentes fazem com que esse composto possa tornar-se instrumento de um ciclo exponencial de realimentação onde o aquecimento causa liberação de gás que resulta em mais aquecimento que libera  mais gás e assim por diante, até que não haja mais metano em condições de ser liberado.

            Esse foi o mecanismo de aquecimento do planeta responsável pelas duas maiores extinções de espécies de vida ocorridas na Terra: a extinção do Permiano-Triassica e a do máximo térmico Paleoceno-Eoceno.

            Na Permiano-Triassica maciças erupções vulcânicas numa vasta área da Sibéria liberaram gases do efeito estufa que resultaram no aquecimento da atmosfera com enorme impacto no clima, nos animais e nas plantas, mas, muito pior do que isso, aqueceram os oceanos o suficiente para que o Clathrato congelado no fundo dos mares fosse liberado para a atmosfera num circulo de realimentação exponencial que elevou a temperatura média da Terra a 6oC, suficiente para dizimar 70% dos vertebrados terrestres e 96% de toda a vida no mar, onde os cálculos de temperatura da água indicam mais de 40oC nas regiões equatoriais.


            A questão crucial do processo de liberação do Clathtrato é que, pelas imensas quantidades de gás contidas no Ártico, se o metano da atmosfera constituir de fato o potente fator de aquecimento global que se acredita, ele estabelecerá prontamente um mecanismo circular de realimentação positiva que não pode ser revertido por ação humana.

            Os enormes volumes de gás envolvidos tornam-se evidentes quando se nota que apenas no que diz respeito ao desprendimento do Clathrato dos mares do Ártico, que já começou,  estamos falando em liberação de gases equivalentes a algo entre 1.000 e 10.000 Gigatons (=bilhões de toneladas) de Carbono.

            Mas isso é apenas uma fração: os totais de carbono equivalente ao metano armazenado em toda a superfície do Ártico, incluindo o “permafrost”, é dezenas de vezes maior.


            Como se uma só ameaça não bastasse, os milhões de quilômetros quadrados de “permafrost” que se estendem da Sibéria ao Alasca e ao Canada começaram a dar sinais de desestabilização, através da formação de lagoas emissoras de metano e de súbitas explosões que abrem enormes buracos como o da fotografia abaixo, na Sibéria.


Cientistas diretamente envolvidos na identificação das áreas de emissão de metano declararam em julho de 2013 que, no Ártico como um todo, uma súbita  “eructação” de 50 Gigatoneladas de metano “é altamente possível a qualquer momento”.   Note-se que a emissão de 50 Gigatons  de metano corresponde a 1.000 Gigatons de carbono queimado por combustíveis fósseis, o que é mais de 3 vezes o total das 300 Gigatons consumidas, até hoje, desde o início da Revolução Industrial.  

            Veja-se a apresentação de Natalia Shakhova, pesquisadora da Universidade do Alasca em Fairbanks e membro da Academia Russa de Ciências, com a intervenção de Igor Semiletov, do Pacific Oceanological Institute, na Conferência da União Européia de Geofísica, em 30.04.2014.


            O que é significativo, de fato, nesse aumento das emissões de metano é que ele está ocorrendo devido a um processo de aquecimento do ambiente polar, independentemente das razões que o estejam causando. E se o Metano for, como consta que é, um componente muito mais potente que o gás carbônico como indutor do efeito estufa, todo o aparato voltado para a redução das emissões de CO2, torna-se irrelevante diante disso.

            E, para coroar, o vídeo mostrado no link abaixo, datado de Agosto/2014, apenas 90 dias atrás, no final do verão no hemisfério Norte, mostra o crescimento espantoso das concentrações de metano reveladas por sensores – da ordem de 2400 ppb (partes por bilhão) em regiões que no ano anterior estavam ainda abaixo de 2000 ppb.


Resta a esperança de que estejam todos errados !

            

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