Este blog e o
livro que o motivou tiveram origem na percepção de que os limites ao crescimento
impostos pelos recursos finitos do nosso planeta implicariam no colapso da
atual civilização globalizada tão logo escasseasse a principal fonte de energia
abundante que a possibilitou.
Na verdade,
a desatenção concedida, de modo geral, aos limites de crescimento é tão
anticientificamente absurda, que somente um apego inconsciente às suas origens
religiosas e metafísicas justifica a crença de que dificuldades irremovíveis
serão sempre resolvidas a favor do homem.
Mas o fato
é que, à despeito de negação e à descrença continuada, o processo de crise
irreversível vislumbrado uma década
atrás prossegue inelutável, com as dificuldades políticas e econômicas avultando
por toda a parte enquanto se discute ainda se o escasso crescimento da matriz
energética se deve à crise ou se, como foi previsto, a crise é motivada por
essa causa fundamental.
Por outro
lado, poucas dúvidas podem restar de que nos dias de hoje, com 200 mil nascimentos e 80 mil mortes por dia e
uma população chegando aos 7,3 bilhões, já atingimos o estágio de crescimento
que é mais que suficiente para enxovalhar toda a Terra e esticar até os últimos
limites a capacidade de produção sustentável do solo, de eliminação dos
poluentes, de recuperação dos cardumes e
preservação da biodiversidade do planeta.
Continuamos
impávidos a interferir no meio ambiente e a expandir as fronteiras de nossa
espécie, sem atenção para o fato de que,
em consequência disso, a cada dia que passa extinguem-se
irremediavelmente mais de uma centena de outras espécies, dentre as milhares
espalhadas por todo o globo.
Veio a
ocorrer, porém, que a nossa capacidade de afetar a natureza chegou a tal ponto
que tornou impossível ignorar efeitos crescentemente adversos, entre eles, com toda a certeza, o das mudanças climáticas.
Civilização global desse
tipo, por si só esquenta o planeta, não apenas pela geração de calor e a
produção de gases do efeito estufa, mas também pela introdução de ciclos
diversos de realimentação positiva que reforçam-se uns aos outros aumentando o
efeito que cada um teria separadamente.
A atenção especial concedida ao CO2 na conferência sobre
o clima e o meio ambiente no Rio de Janeiro em 1992, no protocolo de
Kioto em 1997, em inúmeras convenções e em campanhas bem providas de
fundos, acabaram causando um acirrado debate entre os defensores das medidas
paliativas e os que descreem da importância do CO2 e atribuem as variações
climáticas a causas cíclicas naturais e que, baseados em variações para mais e
para menos observadas nos diversos continentes, procuram mostrar que a
temperatura média da terra está oscilando dentro de um “plateau” desde 1998.
Mas a medida da variação do conteúdo energético dos oceanos mostra claramente que houve uma variação no calor acumulado da ordem de 5 para 20, comprovando um grande aumento na quantidade de calor armazenado principalmente no mar – não no conjunto das massas de terra, gelo e ar.
A energia concentrada nas correntes aquecidas do mar e do ar que se move
sobre ele, tem provocado um acelerado derretimento nos gelos polares,
principalmente os do Oceano Ártico, diretamente atacados pelas ramificações
ainda quentes da corrente do Golfo, as quais costeiam a Gröenlandia e se
dispersam entre as bordas do mar congelado e o extremo Norte da península
escandinava.
Em consequência disso estão ocorrendo grandes variações no “Stream Jet” do Ártico, corrente de ar normalmente fluindo na altura da latitude 60o
e que passou a ondular fortemente causando extremos de frio e calor e eventos
meteorológicas nunca antes observados, sendo digno de nota que as temperaturas continentais mais quentes e mais frias jamais registradas,
ocorreram depois do ano 2000.
Um problema maior
se alevanta.
O acelerado
degelo testemunhado pelo espetacular desabamento de gigantescas paredes de
gelo, o galopante recuo das geleiras, a inusitada fragmentação e a constante
diminuição da espessura da capa de mar congelado para menos da quinta parte do
que era vinte anos atrás, deve-se simplesmente ao fato de que na região Ártica é possível constatar um processo acelerado de inegavel aquecimento, que a partir
da década de 1990 levou temperaturas médias do entorno de 0oC para
cerca de 2oC.
Foi nessas
condições que, em 2010, a literatura científica reportou pela primeira vez a
ocorrência de gás metano borbulhando no Oceano Ártico.
A
importância dessa descoberta, que alarmou enormemente à comunidade científica, se deve ao fato de que
o gás que estava sendo liberado originava-se dos imensos depósitos de um composto
sólido espalhado no sedimento do fundo dos mares e no “permafrost” do Ártico,
denominado Clathrato de Metano ou simplesmente Clathrato, que aprisiona grande
proporção de metano dentro de uma estrutura cristalina de água, semelhante ao gelo.
O
Clathtrato é perfeitamente estável dentro d‘água com temperaturas no entorno
dos 2oC ou em rochas sedimentares da superfície cuja temperatura
média seja menor que 0oC, mas torna-se instável e libera o gás ao
elevar-se a temperatura.
Uma vez que
o metano é um gás muito mais potente que o CO2 como causador de “efeito estufa”, as gigantescas quantidades
de Clathatro existentes fazem com que esse composto possa tornar-se instrumento
de um ciclo exponencial de realimentação onde o aquecimento causa liberação de
gás que resulta em mais aquecimento que libera
mais gás e assim por diante, até que não haja mais metano em condições
de ser liberado.
Esse foi o
mecanismo de aquecimento do planeta responsável pelas duas maiores extinções de
espécies de vida ocorridas na Terra: a extinção do Permiano-Triassica e a do
máximo térmico Paleoceno-Eoceno.
A questão crucial
do processo de liberação do Clathtrato é que, pelas imensas quantidades de gás contidas
no Ártico, se o metano da atmosfera constituir de fato o potente fator de
aquecimento global que se acredita, ele estabelecerá prontamente um mecanismo
circular de realimentação positiva que não pode ser revertido por ação humana.
Os enormes
volumes de gás envolvidos tornam-se evidentes quando se nota que apenas no que
diz respeito ao desprendimento do Clathrato dos mares do Ártico, que já
começou, estamos falando em liberação de
gases equivalentes a algo entre 1.000 e 10.000 Gigatons (=bilhões de toneladas)
de Carbono.
Mas isso é
apenas uma fração: os totais de carbono equivalente ao metano armazenado em
toda a superfície do Ártico, incluindo o “permafrost”, é dezenas de vezes maior.
Como se uma
só ameaça não bastasse, os milhões de quilômetros quadrados de “permafrost” que
se estendem da Sibéria ao Alasca e ao Canada começaram a dar sinais de
desestabilização, através da formação de lagoas emissoras de metano e de
súbitas explosões que abrem enormes buracos como o da fotografia abaixo, na
Sibéria.
Cientistas diretamente envolvidos na identificação das áreas
de emissão de metano declararam em julho de 2013 que, no Ártico como um todo,
uma súbita “eructação” de 50
Gigatoneladas de metano “é altamente
possível a qualquer momento”.
Note-se que a emissão de 50 Gigatons
de metano corresponde a 1.000 Gigatons de carbono queimado por
combustíveis fósseis, o que é mais de 3 vezes o total das 300 Gigatons consumidas,
até hoje, desde o início da Revolução Industrial.
Veja-se a apresentação de Natalia Shakhova, pesquisadora
da Universidade do Alasca em Fairbanks e membro da Academia Russa de Ciências, com
a intervenção de Igor Semiletov, do Pacific Oceanological Institute, na Conferência da União Européia de Geofísica, em
30.04.2014.
O que é significativo,
de fato, nesse aumento das emissões de metano é que ele está ocorrendo devido a
um processo de aquecimento do ambiente polar, independentemente das razões que
o estejam causando. E se o Metano for, como consta que é, um componente muito
mais potente que o gás carbônico como indutor do efeito estufa, todo o aparato
voltado para a redução das emissões de CO2, torna-se irrelevante diante disso.
E,
para coroar, o vídeo mostrado no link
abaixo, datado de Agosto/2014,
apenas 90 dias atrás, no final
do verão no hemisfério Norte, mostra o
crescimento espantoso das concentrações de metano reveladas
por sensores – da ordem de 2400 ppb (partes por bilhão) em regiões que no
ano anterior estavam ainda abaixo de 2000 ppb.
Resta a esperança de que estejam todos
errados !
Nenhum comentário:
Postar um comentário