sábado, 8 de novembro de 2008

Mas então...porque o dólar subiu ??



É.

O dólar ultimamente valorizou-se até 30% com relação a algumas moedas, chegando a 40% com relação ao real.

E agora os mesmos “especialistas” que juravam pelos fundamentos sadios da economia mundial e se mostraram completamente incompetentes para perceber o tsunami que se alevantava, elogiam as providências tomadas e “explicam” a alta do dólar como resultado dos Estados Unidos estarem enfrentando a crise com mais decisão do que o resto do mundo...

...quando, na verdade, essa valorização do dólar não passa de um incidente de prazo curto, inteiramente explicável pela enorme quantidade de recursos que os “hedge funds” e os demais atores do mercado global estão repatriando -- para cobrir suas perdas, ou para assumir posições de menor risco que ainda são atribuídas à moeda americana.

Trata-se de um movimento reflexo que não tem nada a haver com os fundamentos do dólar, que só tem piorado pela insistência em resolver a crise financeira pela via do aumento de liquidez numa situação que é, basicamente, de insolvência em grande escala, não de falta de liquidez.

Não foi por outra razão que o dólar valorizou-se mais fortemente com relação às moedas dos paises envolvidos no chamado “carry trade”, como o Brasil -- um país de economia robusta, forçado a manter elevadas taxas de juro para controlar o superaquecimento econômico e a inflação, onde os “hedge funds” e investidores de todo o tipo vem há muito tempo aplicando a 17% ao ano dinheiro tomado a juros mais baixos, seja, praticamente a 0%, como no caso do Yen, ou 1% em Francos Suíços, 2,25% em Euros, ou Dólares a 4,5%.

Como, em nosso país, grande parte do saldo do comércio exterior volta para lá, sob a forma de remessa de lucros e serviços, nossas reservas se acumulam lentamente, e porisso, além de reféns do valor do dólar -- que ao cair dilui seu valor -- boa parcela das tão badaladas “reservas brasileiras” de 200 bilhões de dólares fica compromissada com esse “dinheiro quente”, aplicado em ativos de grande liquidez, que tendem a sair rapidamente e que para isso necessitam adquirir grande quantidade de dólares, levando a taxa de cambio às alturas.

Porque a ninguém interessa a excessiva valorização do dólar, nem agravar as perdas dos investidores estrangeiros devidas à queda acelerada das ações brasileiras na Bolsa, o FED ofereceu ao Banco Central do Brasil uma operação de troca de moedas correspondente a um empréstimo de 30 bilhões de dólares, sem juros, para arrefecer o ímpeto e evitar que a evasão assumisse dimensões catastróficas.

Desse modo, embora a retomada da queda do dólar seja uma aposta fácil de ganhar, perdas irreversíveis vem ocorrendo e já ocorreram no Brasil porque o BC havia antes da crise estimulado as empresas brasileiras a especular com moedas em baixa, para compensar os prejuízos que o valor baixo do dolar causava às exportações.

A inesperada subida do cambio causou bilhões de prejuizo. Assim, com toda a ajuda do governo, pode-se contar com dias difíceis à partir de 2009, já que com a queda de preço das commodities o saldo comercial tenderá a zero, as empresas que tiveram grandes perdas reduzirão seus investimentos, e as remessas de recursos ao exterior continuarão elevadas, tendendo a aumentar o déficit externo.

Mas embora, historicamente, o dólar se beneficie nos episódios de fuga-para-a-qualidade que acontece quando cessa o carry trade, nas atuais condições não se pode esperar que a moeda de um país com 1 trilhão anual de déficit externo possa manter-se nessa posição por muito tempo.


Acima de tudo, não se pode esquecer que o Pico do Petróleo parece haver finalmente chegado, em 2008.

Ainda está pouco divulgado, mas há alguns dias o “The London Financial Times” informou que o relatório da IEA (International Energy Agency) a ser publicado no próximo dia 12 de Novembro estimou a queda de produção de petróleo na ordem de 9.1% ao ano, em média, nos próximos anos, nos campos que já ultrapassaram o pico, enquadrando-se no conjunto das previsões mais pessimistas.

Considerando que o pior do colapso econômico ainda não chegou, esse fato, por si só, mostra que não existe possibilidade de recuperação econômica a nível mundial.

Em termos de produção de petróleo, devido às características de demanda inelástica e da dependência econômica ao produto, tanto por parte dos produtores como dos consumidores,  pode-se esperar com certeza que independentemente das oscilações de preço  os produtores continuarão a produzir o máximo que puderem e os consumidores comprar o máximo que tiverem condições de comprar. 

Nesse contexto, porém, o Brasil se destaca de modo singular, não apenas por ter condições de alcançar auto-suficiência energética, mas por ter uma equipe econômica de nível internacional, temperada pelo sucesso no enfrentamento de graves crises regionais e mundiais, e que tem podido contar – ao contrario do que tem ocorrido, por exemplo, na Argentina – com o decidido apoio de um empresariado local, que tem se mostrado disposto a defender a moeda e os objetivos nacionais.

Parece que está se tornando próximo o momento em que nos desatrelaremos do dólar.

2 comentários:

  1. Meu caro Mauro

    Não consegui mandar o comentario pelo blog. A tela pediu um tal de URL que eu conheço de nome mas não sei o que é. Vou me informar.

    É fora de dúvida que a atual vertiginosa ascenção do dolar se deve majoritariamente à necessidade de cobertura de prejuizos de investidores nesta moeda. Mas há também uma parcela de investidores correndo para o dollar como reserva de valor, como proteção.

    O que me parece surpreendente é que há já muitos anos se tenha estabelecido um fluxo permanente de dollares para os USA como reserva de valor, o que vem permitindo em grande parte, o equilibrio de seu balanço de pagamentos.

    Como se justifica isto quando há tantos anos os USA apresentam seus deficits gêmeos imensos,(deficits publico e comercial) ambos da mesma ordem de 1 trilhão de dolares cada,o que aponta para uma inevitável crise de sua economia (como vc aponta) e consequentemente de sua moéda? Creio que estamos chegando (ou já chegamos) ao momento em que o dolar, apesar dessa valorização episódica vai deixar de ser moeda capaz de oferecer maior segurança aos investidores, do que outras moedas.

    Mais um comentário: parece-me que nossas reservas apoiam-se mais em dolares resultantes de nossos saldos do comercio exterior. Tanto que não está sendo afetado por essa fuga de dolares a menos de um pequeno uso desta reserva para venda de dolares no mercado para reduzir a valorização do real.
    Os dolares especulativos (bolsa e titulos governamentais) e os invesrtimentos externos ajudam sim a fechar nosso balanço de pagamentos.
    Estou certo??
    Um abraço Romulo

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  2. Provavelmente as pessoas nos dias de hoje continuam a usar automaticamente o dólar e as letras do tesouro americano como refúgio seguro porque é a coisa mais simples a fazer, por falta de intimidade com as possíveis opções.

    Os governos continuam a fazer também isso devido à enorme massa inercial do sistema como está montado. No momento, na verdade não tem opções. Só terão depois de criarem o novo Sistema Financeiro Internacional, que começa a ser articulado -- que provavelmente terá um verdadeiro Banco Mundial servindo como caixa de compensação entre os diferentes Bancos Centrais e moedas, e funcionando como garantidor de última instância.

    A nova moeda internacional de troca não precisará nem ser emitida, basta existir como moeda escritural, correspondente a "Creditos" do Banco Mundial. Uma opção interessante pode ser emitir moeda internacional lastreada em unidades padrão de energia, tipo "barris equivalentes de petróleo" = 1680 kwh. Assim: 1 Crédito = 1 BEP. Gosto muito dessa idéia.

    Quanto a questão das reservas, é isso mesmo,
    as reservas internacionais representam o total de moeda estrangeira (principalmente dólares) mantido pelo Banco Central, disponível para uso imediato. Elas têm origem nos superávits do balanço de pagamentos: toda vez que há uma entrada de moeda estrangeira, o BC realiza o câmbio, ficando com os dólares e pagando os exportadores em reais.

    Quando há mais entradas de dólares que saídas, o BC acumula reservas. Inversamente, quando o país é deficitário, há uma saída de divisas que o BC cobre, fazendo uso das reservas acumuladas.

    É nisso que está o problema da saída rápida de capital quente: as reservas que -- quando se acumulam -- se acumulam devagar, escoam-se rapidamente na proteção da moeda ameaçada pela devolução de grandes volumes de "investimento" em papeis.

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