quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O Colapso do Dólar e a nova Criptomoeda* da WEB
     *(criptográfica e digital)

Ao final da incrível confrontação de algumas semanas atrás, o Congresso dos Estados Unidos vislumbrou o desastre que se agiganta sobre a moeda de reserva mundial, e decidiu fazer... 
....absolutamente nada !

A precária extensão do teto de endividamento para o início de 2014, sem que houvesse ocorrido nenhum corte nos trilhões destinados à  máquina de guerra perdulária e superdimensionada, nem qualquer sinal de arrefecimento da cultura de “bolsa família” que garante os votos da politicagem, resultou na certeza de que o Governo Americano irá à falência mais cedo do que se esperava, assim detonando a bomba de destruição em massa que desmontará o presente sistema financeiro internacional.

Torna-se cada vez mais claro de que não há como evitar isso. Nenhuma negociação no Congresso, nenhum milagre de última hora poderá ser capaz de corrigir em meses o descaminho de décadas.

Em paralelo com isso, o agravamento da crise vem tornando as pessoas pela primeira vez conscientes da precariedade absurda de um sistema financeiro global baseado nas emissões do Banco Central de um país soberano, refratário ao controle pela simples definição de soberania.

Mas, trocar por qual coisa, o que temos agora ? Por emissões de um Banco Central Mundial ? Pela volta ao padrão ouro ?

O dito de que “a necessidade é a mãe da invenção“ parece ter sido mais uma vez confirmado com a extraordinária criação de um suposto gênio japonês,  conhecido apenas pelo pseudônimo Satoshi Nakamoto, que em janeiro de 2009 originou as primeiras unidades de uma moeda inteiramente virtual, destinada a ser produzida de forma descentralizada, independentemente de qualquer governo ou banco central.

O seu complicado processo de geração que envolve um numero crescente de computadores na criação conjunta de cada bloco de moedas, foi concebido de um modo que necessariamente limita em 21 milhões a quantidade total de unidades da moeda possíveis de serem criadas – limite atingido de forma assintótica, com dificuldade crescente.

Denominadas “Bitcoins” ($BTC), podem ser compradas e em seguida depositadas em carteiras (endereços virtuais de 12 dígitos alfanuméricos) como reserva de valor ou para serem utilizadas em operações de compra e venda e transferência de recursos realizados através da WEB.

Inicialmente usada como meio de pagamento de jogos da Internet, as notáveis potencialidades teóricas de uma moeda criada em ambiente criptográfico pelo “trabalho” de supercomputadores operando algoritmos complexos fez com que um número cada vez maior de pessoas se interessasse em adquirir essas “moedas “.

A procura naturalmente multiplicou o número dos que utilizam o  software (open source) que interconecta todos os produtores no trabalho conjunto de criação da moeda --  conhecidos como “mineradores”, aludindo ao fato de que a moeda é criada pelo trabalho deles com dificuldade crescente, como numa mina de ouro que se aprofunda.

Nesse final de novembro, pouco menos que 5 anos depois da criação já existem em circulação mais de 12 milhões de Bitcoins, atualmente gerados a uma taxa aproximada de 125000 $BTC por mês, livremente negociados no mercado global a um valor que vai ultrapassando os US$ 1000 por $BTC, resultando numa capitalização de mercado próxima dos US$ 12 bilhões.

Essa aceleração do numero de investidores, que está se tornando explosiva depois que gurus econômicos de prestigio reconheceram o Bitcoin com alternativa válida para cautelosos investimentos, obriga a uma análise aprofundada do tema.

Haverá  futuro para uma moeda com essas características ?

Desde os tempos de Aristóteles, as características de uma boa moeda tem sido definidas em termos de divisibilidade, portabilidade, durabilidade, escassez, e valor intrínseco.

1 - O Bitcoin é imbatível em termos de divisibilidade já que pode ser fracionado em qualquer quantidade de casas decimais.

2 - É tão portátil quanto o permitir o alcance das redes de celular. 

Na verdade, ainda mais portátil do que permitem as redes de celulares, porque qualquer quantidade de $BTC pode ser baixada de uma carteira da WEB  trazendo dados em códigos de barras matriciais e hologramas a serem impressos numa base física de papel, ou em belas moedas que podem ser entesouradas, ou postas a circular até serem "descarregadas" pelo envio dos  Bitcoins de volta a qualquer outra carteira da rede para serem trocados diretamente por bens ou serviços ou papel-moeda corrente. 

 3 - A durabilidade dessa moeda é a da rede global em que está sendo criada. Portanto, não é mais nem menos durável do que a “moeda” eletrônica atualmente em vigor, que é armazenada e circula através das redes públicas e privadas, constituindo a virtual totalidade de todo o dinheiro “normal” existente.

4 - A escassez do Bitcoin, como das outras criptomoedas do mesmo tipo, é garantida por seu mecanismo intrínseco de formação.

5 - A questão do  “valor intrínseco” merece  uma luz melhor sobre o que significa de fato.

O Ouro e a prata, usados milhares de anos como moeda, tinham com certeza um “valor intrínseco”, do mesmo modo que o sal africano e as conchas utilizadas para o mesmo fim na Polinésia.

Mas as quantidades de ouro e de prata usadas para fazer joias, ou de conchas aproveitadas como colheres, ou sal dado para o gado, não são nem de longe capazes de justificar as grandes acumulações desses materiais feitas principalmente com a finalidade de juntar-se moedas e barras de ouro e de prata,  ou conchas, ou sacos de sal, utilizados como instrumentos de troca.

Conclui-se que o verdadeiro “valor intrínseco” do ouro e da prata, do sal e das conchas, causador da acumulação desses materiais, é sua adequação a funcionar como moeda, mais do que serem matéria prima para a confecção de jóias, salgar carne, servir de colher. 

Não por outra razão amontoaram-se em quantidades muito maiores que as necessárias para fazer joias, do mesmo modo que o sal e as conchas nas sociedades primitivas acumulavam-se em quantidades muito maiores que as necessárias ao uso que se podia fazer daquilo. 

Assim, o "soba"africano tinha em seus depósitos sacos de sal suficientes para comprar as armas e os aliados que necessitasse, muito mais do que seria possível dar para o gado, ou usar em comida. 

A lição que se tira disso é que o  “valor intrínseco“ de uma moeda é o valor que a sociedade lhe atribui como símbolo de trabalho acumulado e como instrumento de troca.

Desse modo, o Bitcoin tem, na verdade, o grande "valor intrínseco" de sua adequação a funcionar como moeda, tão bem como o ouro ou a prata, e com a certeza de escassez mais garantida do que a das presentes moedas criadas sem limite, por simples atos de vontade.

Resulta que não há porque não aceitar o Bitcoin como uma verdadeira moeda, muito melhor que a produzida “do ar” por qualquer governo, até porque não tem como ser inflacionada diretamente pelo Tesouro, ou por emissões de um Banco Central.

No lado positivo da balança avultam ainda a facilidade, a alta velocidade e o baixo custo das transações,  muitíssimo menor que os 3% ou 3,5% das remessas feitas pela rede bancária ou pelo PayPal. 

Recentemente alguém transferiu Bitcoins correspondentes a US$ 6,5 milhões de dólares numa operação que durou poucos minutos ao custo  poucos centavos de dólar.  Custaria mais de US$ 227 mil  se feita por via bancária.  É certo que os bancos não gostarão nada disso.

Do lado negativo, o que se pode anotar é a dependência completa da WEB global. Eventos gravíssimos como a explosão de bombas nucleares geradoras de pulsos eletromagnéticos que apaguem satélites e cortem a eletricidade, suspenderão a mineração de Bitcoins e criarão para os possuidores os mesmos problemas que eles terão com suas contas bancárias e Certificados de Depósitos. Num caso como no outro, pouco se pode fazer quanto a isso além de ter comida guardada e alguns quilos de ouro no cofre.

Outra questão a notar é que sendo os Bitcoins gerados através de programas de open source, qualquer pessoa pode fazer versões diferentes, com diferentes propriedades, e de fato isso já aconteceu.

Existem vários competidores funcionando no mercado, conhecidos como “alt-coin”.  Com uma população mundial a caminho dos 10 bilhões, e completa indefinição sobre o sistema financeiro que sucederá ao que existe hoje, há espaço suficiente para muita experimentação desse gênero, sem que isso implique em problema para os sistemas de criptomoedas em competição.

Ressalte-se, no entanto, que o Bitcoin e as criptomoedas já existentes (Litecoin, Feathercoin, Terracoin, Namecoin, Novacoin, entre as principais) só poderão funcionar normalmente como instrumentos de compra e venda quando vencerem o estagio inicial de turbulência e tiverem seu valor variando dentro de uma determinada faixa de estabilidade.

O que é  muito interessante é o fato de que esse novo tipo de moeda aparece como uma alternativa bastante viável em face de um colapso do sistema financeiro internacional.



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