quinta-feira, 7 de novembro de 2013



O Cel. Jorge Ribeiro, meu colega de turma desde o CM, profissional especializado nos meandros da Informação e da Contra-informação, fez três perguntas sobre o pré-sal.
Prezado Mauro:  
Pouco depois de ler a notícia de que o consórcio formado pelas empresas Petrobras, Shell, CNPC, CNOOC e Total venceram o leilão do Campo de Libra e ouvir  no meio da  novela – o discurso da presidANTA, informando que os TRILHÕES obtidos no pré-sal contribuirão para a redenção da Educação e da Saúde no Brasil nos próximos 35 anos, tomei conhecimento do seu comentário, versando  sobre como as coisas estão, dez anos depois. Juntando seu comentário com o estardalhaço eleitoreiro do leilão, a baderna em âmbito nacional de sindicalistas, União Nacional de Estudantes, anarquistas, nacionais socialistas, idiotas úteis e trotskistas de diversas cepas, assomou-me um dúvida atroz que somente um “expert” em assuntos petrolíferos - como Vossa Alteza - é capaz de responder:
1) O consórcio tem tecnologia para chegar no pré-sal e extrair  de lá o “ouro negro”, de forma financeiramente compensatória? 
2) Caso positivo,  quanto tempo levaríamos para concretizar o projeto? 
3) Ou tudo isso não passa de uma enorme pantomima? 

Respondidas do modo abaixo.
Por partes:
1) Tecnologia para chegar no pré-sal eles terão, com certeza.
Todas as soluções de problemas e aperfeiçoamentos técnicos avançados pela Petrobrás e seus parceiros há muito que são conhecidos da National Security Agency  que -- como você sabe melhor do que eu --  há mais de 30 anos usa o complexo "Echelon" de espionagem eletrônica  para escutar, selecionar automaticamente e gravar o que interessa de toda e qualquer ligação telefônica, fax, e-mail, o que for, que circule por micro-ondas, em links terrestres ou de satélites, em qualquer lugar do planeta.   

Não pode haver dúvida de que qualquer novidade tecnológica importante para a "National Security" seja em seguida repassada para  empresas deles que possam fazer bom uso.  E os chineses tem o costume de roubar dos americanos tudo o que precisam.  Sendo assim, o mais provável é que hoje eles estejam até melhor preparados que a Petrobrás para o desafio da perfuração. 

2) Porém, extrair o óleo de forma economicamente compensatória  já é coisa mais complicada --  para todos:

Furar poços a partir de plataformas flutuantes separadas do fundo do mar cerca de 4 km  -- e depois prosseguir furando através de mais 2 km de sal quente (80/100 graus), mole, e muito mais  instável do que as rochas que estão acima e abaixo dele,  é um empreendimento arriscado por definição.  A operação posterior, pior ainda.

a) -  Os desenhos mostrando as plataformas, a tubulação e o fundo do mar são enganadores, porque se fossem feitos na escala correta a plataforma ficaria  muito pequena e a tubulação praticamente invisível.  Veja a figura anexa, onde ainda falta a perfuração posterior de sedimento, de rocha, de muito sal --  e de rocha de novo.             

  

Na verdade ninguém sabe como vai se comportar ao longo do tempo esse fio de cabelo, submetido a tanta instabilidade. 
Nem os custos de manutenção e recuperação dos desastres --  quando  for possível recuperar...  

b) Além disso, a corrosão dos tubos e válvulas pelo sal (por fora) e pelos ácidos sulfúricos e carbônicos da alta concentração de CO2 e enxofre (por dentro) obriga ao uso de ligas especiais, a serem também sujeitas ao teste do tempo.  

c) Existe também o gargalo logístico causado pelos 300 km de distância da costa, que vai exigir a implantação de uma rede de bases intermediárias onde se armazenem diesel, suprimentos e se transbordem pessoas, transportadas por distancias que estão no limite da autonomia da maioria dos helicópteros.     

d) Como o CO2 --  acusado de causador do aquecimento do planeta -- está presente em alta concentração nos hidrocarbonetos do pré sal, a Petrobrás declarou que adotará a solução politicamente correta de reinjetá-lo no reservatório subterrâneo, depois da separação, uma proposta complicada e encarecedora da extração.

e) Outras incógnitas importantes são a taxa média de decadência da produção e a quantidade real de óleo recuperável existente .
 O fato é que, no que diz respeito à economicidade da exploração do petróleo, o quesito fundamental tem a sigla E.R.O.E.I. (Energy Return On Energy Invested),  que era da ordem de 100 unidades de energia obtida para cada 1 investida, nos primórdios da exploração, foi caindo ao longo dos anos, e hoje é ainda próximo a 10:1 nos poços filét-mignon da Arabia Saudita -- apesar da presente necessidade de injetar 4 a 5 milhões de barris de água do mar para cada 10 milhões de barris de óleo tirado. Quando o  E.R.O.E.I. chega a 1, desaparece a  vantagem de extrair óleo para fins energéticos.    

A causa fundamental da crise da produção de petróleo é que os campos que vem sendo explorados há muitas décadas produzem com dificuldade crescente e as novas jazidas que vão sendo encontradas são de óleo e gás cada vez mais difícil de ser extraído, com o E.R.O.E.I. se aproximando perigosamente de 1.   

As esperanças de compensar a queda da produção com a exploração das jazidas de óleo "não convencional" (óleo polar, areias betuminosas, shale/tight oil, óleo de águas profundas) tem se dirigido principalmente: 

(I) ao pré-sal do Brasil (em primeiro lugar) e da Angola;
(II) aos depósitos de tight oil e de  kerogen  (que pode ser transformado artificialmente em petróleo) que   existem  em gigantescas formações (Bakken, Eagle Ford e outras) de shale  (que é uma rocha sedimentar tipo ardósia)  no meio Oeste americano, na Austrália e outras partes do mundo. 

O método  desenvolvido para a extração do tight oil e do kerogen, conhecido como fracking,
consiste em fazer poços horizontais onde se injetam produtos químicos sob pressão que fraturam a rocha e permitem levar o líquido à superfície para ser processado. 

Do mesmo modo que com o pré-sal, há um grande estardalhaço nacionalístico (e muita especulação na bolsa) sobre a exploração dessas reservas, apontadas como capazes de tornar os Estados Unidos e Austrália independentes de importação e mesmo  importantes exportadores de petróleo, mesmo sem haver ainda dados reais sobre a viabilidade a longo prazo da tecnologia no que diz respeito aos custos finais de produção, levando-se em conta os elevados danos ecológicos e a forte decadência da produção, que obriga a abrir novos poços nas proximidades dos pioneiros.     


3) Pantomima ?  Nos dois casos podemos dizer que sim, porque lá,  como aqui, existem fontes de energia importantes que podem gerar, ao longo do tempo, grandes recursos, mas não há seriedade nas afirmações retumbantes de que, aqui, vão trazer para o presente o "País do Futuro"  e, lá fora, transformar os Estados Unidos e a Austrália em novas Arabias Sauditas, como estão divulgando.

Por exemplo, quanto a afirmação de que o fracking brevemente tornará os Estados Unidos independentes da importação de petróleo, a projeção da produção americana  feita pela EIA (Energy Information Administration, do Depto de Energia), que já mostrei e repito abaixo, mostra que mesmo com uma grande injeção de shale oil/tight oil, a produção chega a  um pico dentro de 6 anos, com o resultado de que em 2040 a produção doméstica americana será pouco mais de 30% do suprimento de óleo dos USA.  

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